A brisa da manhã dançava suavemente pelas folhas, levando consigo o aroma fresco da floresta úmida. Ainda era cedo, mas a Academia Nuoding já fervilhava com movimentações. Grupos de alunos treinavam, professores caminhavam apressados entre os pavilhões, e a rotina que se repetia a cada amanhecer parecia esconder o turbilhão de forças que se reunia discretamente no subsolo daquele mundo.
Ryouma, sentado sob uma árvore próxima ao lago, estava com os olhos fechados. Seu corpo ainda carregava as marcas da batalha contra o homem mascarado, e mesmo após algumas horas de descanso, ele sabia que a exaustão mais perigosa era a mental. Ainda assim, havia um sossego estranho dentro dele. Como se, pela primeira vez, tivesse aceitado o fardo que carregava.
Mas paz nunca dura muito quando se é alguém fora do comum.
— Você mudou. — A voz surgiu sem aviso.
Ryouma abriu os olhos devagar. A figura de Tang San aproximava-se por entre as sombras da vegetação. Ele carregava um balde de madeira e algumas ferramentas de jardinagem, provavelmente viera cuidar das flores medicinais. Mas não era por acaso que estava ali.
— Mudanças fazem parte de quem quer sobreviver — respondeu Ryouma sem se levantar. — Mas às vezes… elas vêm mais rápido do que gostaríamos.
Tang San assentiu, colocando o balde no chão.
— O que houve naquele dia? Com o homem mascarado. Ele apareceu, te testou… e depois sumiu como se nunca tivesse estado ali. — Os olhos de Tang San estavam serenos, mas observadores. Ele estava claramente mais atento desde então.
Ryouma hesitou por um momento. Por mais que estivesse entre os alunos, ele sabia que não podia confiar em todos. Tang San ainda escondia o Martelo do Céu Claro — algo que Ryouma sabia muito bem por já ter lido tudo sobre aquela história. E aquilo… o tornava uma figura tão perigosa quanto intrigante.
— Foi apenas mais um teste. Um lembrete do que está por vir.
— Ele parecia te conhecer. — Tang San o encarou, mais sério. — Como se já soubesse exatamente o que procurar.
Ryouma soltou um pequeno sorriso irônico.
— E se soubesse?
— Isso não te preocupa?
— Preocupar-se não muda o que precisa ser feito.
Tang San ficou em silêncio por um tempo. Havia algo naquela resposta que o incomodava. Um tipo de confiança dura, quase arrogante, que não combinava com os demais alunos da academia. Era como se Ryouma não fosse alguém que estivesse aprendendo a ser forte, mas alguém que apenas estivesse despertando para o poder que já tinha.
— Você tem dois Espíritos Marciais, não é? — Tang San perguntou com uma frieza repentina.
O silêncio que seguiu foi pesado.
— É. — Ryouma respondeu sem hesitar.
Tang San não reagiu visivelmente, mas a tensão no ar se intensificou. Era uma confissão ousada. Ter dois espíritos era algo raro, algo que poderia mudar totalmente o destino de uma pessoa. Era um segredo que muitos esconderiam — mas Ryouma o entregava como se não fosse nada demais.
— Um deles é aquele dragão sombrio, certo? O outro… é a espada. — Tang San não estava perguntando. Era uma constatação.
Ryouma o encarou.
— E você… também tem dois.
Tang San deu um leve passo para trás, sutil. A surpresa piscou em seu olhar por um segundo, antes de se dissipar. Ryouma havia cravado uma agulha certeira, e o silêncio entre os dois agora era como uma muralha erguida.
— Eu li sobre você — Ryouma disse em voz baixa. — Sobre o que você vai se tornar. Eu sei o nome que vai carregar, os inimigos que vai derrotar. Sei até como termina a sua história. Mas veja bem... esse mundo não está mais seguindo o roteiro.
Tang San fechou as mãos. Não pela ameaça, mas pela dúvida. Aquilo… era real? Ryouma estava falando como se soubesse de segredos que nem ele mesmo ainda havia revelado. E isso o incomodava mais do que qualquer poder.
— Você fala como alguém que não pertence a esse lugar.
— Talvez porque eu realmente não pertença.
Um trovão distante interrompeu a conversa. O céu, que antes estava límpido, agora se cobria com nuvens pesadas. Era como se o mundo reagisse à tensão crescente entre os dois. Uma advertência silenciosa.
— Não crie inimigos desnecessários, Ryouma — disse Tang San, a voz baixa, mas firme. — Nem todo mundo que parece estar contra você realmente está.
Ryouma se levantou devagar, limpando a poeira de suas roupas.
— Não crio inimigos. Mas não me curvo diante deles também.
Tang San apertou os olhos, analisando cada palavra.
— Um dia, vamos acabar nos enfrentando.
— Eu sei — respondeu Ryouma, com um leve sorriso. — E vou estar esperando por isso.
Ele virou-se e começou a andar em direção aos dormitórios. O clima carregado, a tensão com Tang San, e a certeza de que agora havia deixado de ser apenas um aluno comum... tudo aquilo se misturava no fundo de seu espírito.
Naquela noite, quando a lua surgiu tímida por entre as nuvens, Ryouma não dormiu. Em vez disso, sentou-se no topo do telhado do dormitório, o vento cortando seu rosto e as estrelas brilhando lá em cima. O Sistema do Legado apareceu silenciosamente diante de seus olhos, como sempre fazia quando ele se encontrava à beira de um limiar.
[NOVO OBJETIVO REGISTRADO]Missão Oculta: Desafiar o Destino➤ Mude o curso da história original de Douluo Dalu.➤ Faça Tang San reconhecer você como uma ameaça real.➤ Recompensa: ???➤ Penalidade: Você será apenas mais uma nota de rodapé no caminho do Céu Claro.
Ryouma fechou os olhos, deixando que o vento levasse seus pensamentos.
— Chegou a hora de reescrever essa história.