Ethan sentiu o peso das visões desaparecendo lentamente, mas a sensação de estar sendo observado não diminuiu. Seus olhos estavam fechados, e o ar ao seu redor ainda vibrava com a energia da revelação. A imagem da árvore negra, com suas raízes profundas e ameaçadoras, continuava a assombrar sua mente. Ele sabia que aquele não era apenas um pesadelo. Era real, e de alguma forma ele estava conectado a ela, àquela força poderosa e destrutiva.
Quando abriu os olhos, a construção de pedra ainda estava à sua frente, mas algo havia mudado. A atmosfera estava carregada, como se o tempo tivesse desacelerado. O Guardião da Verdade estava em pé diante dele, imóvel, observando-o com um olhar de quem espera uma reação.
— Você viu o que precisava ver. Agora, você deve fazer a escolha. — A voz do Guardião foi serena, mas havia uma tensão palpável em suas palavras.
Ethan estava atordoado. As imagens ainda dançavam em sua mente, e a verdade que ele começava a entender era assustadora. Ele não sabia o que mais esperar, mas havia algo dentro de si que não podia ignorar. Ele sentiu a necessidade de questionar, de entender mais.
— Você disse que minha linhagem foi criada para destruir. O que significa isso? — Ethan perguntou, tentando processar as palavras. — Quem me criou? Quem são essas figuras encapuzadas? E por que minha irmã estava envolvida?
O Guardião olhou para ele com uma expressão distante, como se ponderasse as palavras certas para explicar o que estava acontecendo.
— A linhagem de que você faz parte não é algo que pode ser explicado facilmente. — Ele fez uma pausa, como se estivesse pesando o impacto de cada palavra. — Ela foi criada há muito tempo, em um período antes da formação das grandes nações e impérios que você conhece. O que os antigos buscavam, e o que você carrega, é um poder primordial, capaz de moldar a realidade, a própria essência do mundo.
Ethan sentiu um calafrio ao ouvir isso. Ele havia sentido o poder dentro de si, mas nunca imaginou que fosse algo tão imenso, tão profundo. Ele não sabia se isso era algo que ele deveria temer ou algo que ele poderia controlar.
— E a árvore? — ele perguntou, a imagem da árvore que queimava em sua mente como uma marca indelével. — O que ela representa?
O Guardião suspirou, seu olhar mais grave do que nunca.
— A árvore é a fonte de tudo. Ela é a ligação entre os mundos. — Ele começou, a voz mais suave agora, como se estivesse explicando algo intangível. — Cada raiz que se estende no solo é um portal, conectando realidades diferentes. As figuras encapuzadas que você viu são os antigos guardiões dessas portas, que buscavam controlar os poderes dessa árvore. Eles sabiam que, se o poder dela fosse utilizado de maneira errada, poderia destruir tudo, incluindo os próprios mundos que ela sustenta.
Ethan sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele olhou para o Guardião, tentando entender o que ele estava dizendo, mas as peças ainda não se encaixavam completamente.
— Então, se essa árvore é tão poderosa, por que ela foi deixada para trás? Por que não destruíram tudo antes que chegasse até mim? — ele questionou, sentindo a necessidade de entender a razão por trás de tudo isso.
O Guardião olhou para o céu, e por um momento pareceu perdido em seus próprios pensamentos, como se estivesse lembrando de algo distante. Quando voltou sua atenção para Ethan, seu olhar estava ainda mais sombrio.
— A árvore foi escondida. Esquecida. Mas o poder dela nunca desapareceu. — Ele respondeu com um tom que indicava que, por mais que falasse, as palavras não podiam realmente transmitir a verdade por completo. — Os antigos guardiões sabiam que a árvore precisava ser selada, mas os selos não são imortais. Eles se desgastam com o tempo, e agora é sua linhagem que tem o poder de quebrar esses selos. E quando isso acontecer, a árvore se revelará novamente, e os portais entre os mundos estarão abertos.
Ethan fechou os olhos, absorvendo as palavras que estavam sendo ditas. Ele sentia o peso da responsabilidade, uma carga que ele nunca imaginou carregar. Mas havia algo mais, algo que ainda não conseguia entender.
— O que minha irmã tem a ver com isso? — ele perguntou finalmente, sua voz baixa. — Você disse que ela fez sua escolha. O que isso significa?
O Guardião hesitou por um momento, como se a verdade sobre sua irmã fosse um segredo guardado a sete chaves. Mas então, ele suspirou e falou.
— Sua irmã sabia do que estava em jogo, Ethan. Ela não era apenas uma vítima. Ela fez parte de algo muito maior. Ela fez uma escolha, uma escolha para proteger você e o mundo. Ela sacrificou-se para garantir que você estivesse vivo para enfrentar o que está por vir. O que você é, o que você carrega, é o último elo necessário para reverter o que foi feito. Você é a chave para quebrar os selos. Você é a chave para a destruição ou para a salvação.
As palavras do Guardião reverberaram dentro de Ethan, e ele se sentiu como se o chão sob seus pés estivesse desmoronando. A verdade sobre sua irmã o atingiu com a força de um golpe, e ele sentiu uma onda de perda e raiva tomar conta de seu coração. Ela sabia. Ela sabia de tudo isso e escolheu se sacrificar para ele, para que ele fosse o único capaz de deter o que estava por vir.
Mas ao mesmo tempo, ele sentia uma raiva crescente, uma necessidade de saber por que ela teve que morrer, por que ela teve que fazer tal escolha.
— Como posso parar isso? Como posso evitar que o poder da árvore destrua tudo? — Ethan perguntou, sua voz agora carregada de determinação.
O Guardião o olhou com um semblante sombrio, e a resposta que veio não foi uma promessa de solução, mas um aviso.
— Você precisa fazer uma escolha, Ethan. Uma escolha que afetará o destino de todos os mundos. A árvore é a chave, mas ela não pode ser dominada sem consequências. Não será fácil. A escolha que você fizer determinará se o poder será usado para salvar ou destruir. Mas lembre-se, até os melhores intenções podem ser corrompidas pelo poder que você carrega.
Ethan olhou para o Guardião, sentindo o peso daquelas palavras caírem sobre ele. Ele sabia que seu destino estava entrelaçado com o futuro do mundo, e a cada segundo que passava, ele se aproximava mais da escolha que definiria tudo.
— Eu não posso fazer isso sozinho. — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para o Guardião. — Preciso de aliados.
O Guardião o observou com um olhar penetrante.
— Não haverá aliados fáceis, Ethan. O caminho para a salvação nunca é simples, e os que o acompanharem terão suas próprias escolhas a fazer. Mas você não está sozinho, e nunca estará. Você está mais conectado a tudo o que aconteceu e a tudo o que acontecerá do que imagina. A árvore, o poder, o destino dos mundos... tudo está dentro de você.
Ethan olhou para o céu, as palavras do Guardião ecoando em sua mente. A escolha estava diante dele. A verdade estava revelada. E agora, ele precisava decidir o que fazer com tudo isso.