"E então, como um pesadelo que se recusa a desvanecer, Voltrhuk ressurgiu.
O demônio Ataxa emergiu novamente no epicentro da carnificina, seu corpo grotesco de madeira podre rangendo com cada movimento, lascas negras descamando de sua carne necrosada. O ar ao seu redor empestava-se com o fedor de carne apodrecida e terra contaminada, uma aura maligna que fazia até os guerreiros mais endurecidos engasgarem de náusea. Seus olhos, fendas pútridas, ardiam com um brilho verde-sulfúrico, fixando-se na batalha como um carniceiro avaliando sua próxima carniça.
E, no entanto, a luta prosseguia — gloriosa, desesperada, implacável.
As "raízes das pragas"retorciam-se sob os cadáveres, sugando a vida dos caídos, inchando de vigor profano. Mas os aliados não recuavam.
Os "Guardiões", firmes como sentinelas de uma era perdida, mantinham a linha, seus escudos banhados em sangue e fuligem. Os **lanceiros da Casa da Serpente" avançavam como um único ferrão venenoso, suas armas perfurando as sombras. Os "espadachins do Clã do Dragão"moviam-se como relâmpagos, lâminas descrevendo círculos de morte em meio à escuridão.
E lá estavam eles — "os Ursos", titãs envoltos em mantos negros, seus machados tão pesados que poderiam rachar montanhas. Seus rugidos ecoavam como trovões, desafiando a própria podridão que Voltrhuk exalava.
O demônio riu, um som úmido e rasgado, enquanto erguia suas garras retorcidas.
A batalha parecia não ter fim ...
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"E então, como um raio cortando a tempestade, o Rei Dimitry avançou.
Nada poderia detê-lo.
Seus passos eram firmes, implacáveis, cada pisada no solo profanado ecoando como um martelo sobre uma bigorna. Ele não desviava, não hesitava — seguia em linha reta, seu olhar fixo no abominação que era Voltrhuk. Sua postura era impecável, a espada reluzente em suas mãos como um farol em meio à escuridão. Uma aura de autoridade e poder envolvia seu corpo, tão palpável que até os ventos pestilentos do campo de batalha pareciam se afastar diante dele.
À sua volta, seus "Ursídeos"rugiam, bestas colossais de músculo e aço, esmagando qualquer criatura das trevas que ousasse se aproximar. "Golens", construídos para a guerra, moviam-se com precisão mecânica, seus punhos de pedra esmagando crânios e rachando o chão. "Homúnculos", criaturas de alquimia e fúria, saltavam como demônios esfaimados, dilacerando as sombras que tentavam flanquear seu soberano.
E então, ele chegou.
Diante da criatura, diante do "próprio pesadelo encarnado", o Rei Dimitry parou. Seu respiração era calma, seu punho, firme. Voltrhuk esticou seu pescoço retorcido, um sorriso nojento abrindo-se em seu rosto de madeira apodrecida.
— "Finalmente," rosnou o demônio, sua voz um eco de túmulos abertos.
O Rei não respondeu com palavras.
Apenas ergueu sua lâmina.
E a batalha entre o "homem e o abismo"começou."
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O Milagre
Dimitry toca Voltrhuk.
As garras da criatura não o ferem.
Ele segura os ombros da besta — como se enfrentasse um filho corrompido.
E recita, firme, em aramaico antigo:
**"אַתְּ חֲשׁוֹכָא, יוֹמָא דֵין תִּפּוֹל. אֲנָא הָדֵין דְּנָטַע זַרְעָא דְּחַיֵּא."**
*(At khashokha, yoma den tipol. Ana haden d'nata zara d'chayye.)*
**Tradução:**
**"Tu, ó escuridão, hoje cairás. Eu sou aquele que planta a semente da vida."**
O som explode.
Não é som de trovão.
É maior.
Como se o próprio mundo gritasse.
As sementes respondem.
A terra pulsa, e árvores douradas e prateadas brotam em segundos, engolindo as sombras, os tentáculos, os corpos mortos.
A praga é purgada.
Voltrhuk grita. Mas não de raiva. De libertação.
**"E então, a luz irrompeu.**
Das rachaduras do solo profanado, "árvores douradas brotaram", seus troncos pulsando com uma energia ancestral. Galhos como braços celestiais se estendiam, rompendo a névoa pútrida que Voltrhuk deixara em sua explosão final. A escuridão recuava, corroída pelo fulgor dessas sentinelas da vida.
E do epicentro dessa aurora improvisada, "Dimitry emergiu".
Seu manto, outrora negro, agora brilhava como a própria luz refletida em ébano. Seus passos eram firmes, seu rosto impassível — mas nos olhos do rei ardia o triunfo silencioso de quem enfrentara o abismo e voltara vitorioso.
E então, os gritos começaram.
— VITÓRIA! VITÓRIIIIAAAAA!
Os guerreiros "batiam suas espadas nos escudos", os lanceiros "golpeavam o chão", e até os Golens, em seu ritmo mecânico, "ecoavam o clamor"com vozes de pedra. Os Ursídeos erguiam os machados ensanguentados, rugindo para os céus como se desafiassem os deuses a testemunharem aquela hora.
E no meio do caos jubiloso, Dimitry permitiu-se um único gesto: "ergueu sua lâmina para o horizonte", onde a última sombra de Voltrhuk se dissipava como fumaça.
A guerra terminara.
Mas o "preço" — e o "legado"— dessa vitória, apenas o tempo diria."
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Foi tudo o que bastou.
"Tharion" sorria, ainda sentindo o calor da vitória pulsando em suas veias, quando o frio do terror o atingiu como uma lâmina. Ele voltou-se para a tenda onde "Kátyra", sua esposa, deveria estar — onde, horas antes, ela dera à luz sua filha entre gemidos de dor e promessas sussurradas.
A tenda estava vazia.
Nenhum rastro de luta. Nenhum sangue. Apenas o "silêncio".
E "Aelys", sua amiga de armas, sua guardiã jurada, também havia desaparecido.
O coração de Tharion acelerou. Seus olhos percorreram o campo de batalha, agora tomado por guerreiros embriagados de triunfo, cantando, rindo, abraçando os sobreviventes. **Nenhum sinal delas."
Ele correu, empurrando aliados, gritando seus nomes. Nada.
Até que "o Rei Dimitry" o interceptou. Sua mão pesada caiu sobre o ombro de Tharion, firme como a raiz de uma montanha.
— "Respire, Tharion. Elas estão a salvo."
O rei não sorria. Mas também não parecia alarmado.
E isso, de alguma forma era pior.