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Chapter 64 - O Nascimento da Tempestade empestade

O momento era crítico. Gritos de dor abafados entre as contrações, e a tensão no ar era tão densa que parecia sufocar. Kátyra, de cabelos colados ao rosto pelo suor, cerrava os dentes, os dedos cravados nos braços de Orren e Aelys, que a sustentavam. Seu olhar, porém, estava fixo em Tharion, seu marido, com uma mistura de medo,e coragem.

Tharion engoliu seco, sem contestar. Sabia que nenhuma palavra a aliviaria. Mas antes que pudesse sequer tentar, um som cortou o silêncio como uma faca—uma trombeta, grave e sinistra, reverberando nas colinas.

Todos se viraram.

Lá estava ele.

No alto da colina, sob o céu carregado, o rei Dimitry erguia-se imponente, vestido na armadura negra do Clã do Urso, os detalhes em prata cintilando como garras sob a luz fraca. À sua volta, ursídeos negros rosnavam, golens de pedra se moviam com passos pesados, e homúnculos de olhos vazios aguardavam, obedientes.

O vento parou. O ar gelou.

E então, ele avançou.

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O Nascimento da Tempestade:

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A terra estremece.

Do topo da colina onde o grupo aguarda, sombras se espalham como óleo queimado, consumindo a relva e engolindo a luz do céu.

Orren observa o mapa vivo diante dele se incendiar sozinho.

— "É aqui." — sussurra.

Kátyra se curva, respiração pesada.

Ela tenta esconder, mas Tharion a segura pelo braço.

— "Não mente pra mim agora."

— "Dói, só um pouco... muito pouco... só um dragão tentando sair pela barriga."

Aelys puxa o capuz, preparando-se.

— "Se for menina, espero que nasça com o humor da mãe."

No alto do monte, surge a criatura.

Voltrhuk.

Mais alto que uma torre, tronco de ébano retorcido, olhos como carvões em brasa, asas de ossos que cospem cinzas.

As flores negras crescem sob seus passos como doença viva.

Ele abre a boca — e dela sai o som do vazio, como se o mundo estivesse sugando o próprio fôlego.

Mas não estão sós.

Estalidos de portais, luzes ancestrais rompem o véu da floresta.

Guardas alados do Clã do Ar, ursídeos dourados do Clã dos Ursos, conjuradores dos Dragões e sentinelas do Norte surgem com armaduras polidas, bandeiras sagradas e escudos gravados com runas.

E então o brado ecoa entre os aliados:

— "Por DIMITRY! ATÉ A MORTE!".

Titos na Biblioteca de Cristal.

--Um tilintar leve, como sinos distantes, ecoou no ar. Era um som que só o Pequeno Príncipe podia ouvir, tão suave que parecia vir de outro mundo. Então, diante dele, a grande porta da Biblioteca de Cristal começou a se abrir, revelando um brilho dourado que dançava entre os livros infinitos. Era um convite, um segredo guardado apenas para ele.

Titos entra correndo.

O Erudito o recebe com um chapéu novo — feito de livros dobrados.

— "Ah, o príncipezinho dos olhos famintos! Aqui temos doces de todas as eras: da Babilônia ao Bolo de Poeira Lunar."

Derrama uma montanha de doces mágicos sobre a mesa.

Titos sorri como se não existisse guerra no mundo.

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Campo de Batalha

Kátyra grita.

Ela cai de joelhos entre pedras e raízes enquanto trovões cortam o céu.

Aelys corre até ela, rasgando o manto e preparando o espaço como pode.

— "Vai ser aqui mesmo, querida!"

— "Ótimo! Sempre sonhei em parir no meio de uma guerra. Onde está meu trono, os harpistas, a rosa no cabelo?"

Tharion segura a mão dela, ajoelhado ao lado.

— "Vai dar tudo certo."

— "Melhor que dê. Se eu morrer, vou puxar teu pé todo santo dia, Tharion."

Aelys sorri apesar da tensão.

— "Está coroando."

Relâmpagos explodem no céu. Um grito atravessa os ventos.

Um dos aliados é arremessado. Voltrhuk avança.

Orren conjura muralhas de proteção com runas vivas em volta de Kátyra.

— "Segurem a linha!"

O choro do bebê rasga o ar.

Kátyra cai para trás, exausta, e começa a rir entre lágrimas.

— "Ela grita como a avó. Já nasceu brava."

Tharion segura a menina pela primeira vez. O sangue no rosto, o mundo desabando ao redor — e ali, no meio da guerra, ele chora.

— "Liora." — sussurra.

— "Vai se chamar Liora."

(Do adâmico: "luz no meio da tormenta")

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O Monstro se aproxima

Voltrhuk ruge, desce a mão pútrida sobre eles.

Aelys é arremessada contra uma árvore.

Kátyra grita. Tharion vira para protegê-las.

E então... acontece.

O tempo estilhaça.

Luzes surgem ao redor dele — vermelhas como sangue antigo, prateadas como os olhos de um anjo.

Seu corpo se eleva por um instante, flutuando. Um símbolo aramaico pulsa em seu peito.

As asas sombrias de Voltrhuk param no ar.

Tharion estende a mão. Sem feitiço. Sem palavras.

A criatura é engolida por uma espiral de luz pura.

E desaparece.

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Silêncio.

Todos os olhos estão nele.

Mas Tharion apenas segura a filha contra o peito.

— "Eu protejo vocês. Sempre."

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