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Capítulo — A Casa da Serpente Dourada
A mansão Aerendyl é uma fortaleza de mármore esverdeado, incrustada entre as colinas do sul como uma coroa de pedra e espinhos. Torres esguias, salões iluminados por cristais flutuantes e guardas com armaduras esculpidas em escamas douradas recepcionam o grupo.
Eles são recebidos pelo anfitrião: Lord Sareth Aerendyl, um dragão de aparência jovial, mas com olhos que escondem séculos.
Vestido com uma túnica longa de cetim rubro, ele estende os braços em saudação:
— Ah... a neta do grande Adam. E seus... coloridos companheiros. Uma comitiva tão exótica quanto inesperada.
Kátyra se curva levemente. Tharion apenas o encara. Aelys segura a respiração. Orren disfarça um revirar de olhos.
Durante o jantar, o salão reluz com taças esmeralda e pratos de carne temperada com lavanda e vinho negro. Mas o verdadeiro tempero da noite está nas palavras de Sareth:
— Imagino que esta jornada tenha sido... reveladora. A estrada é cruel para quem nasceu em berço dourado, não é, princesa?
— Eu não fujo da realidade, Lord Sareth. — Kátyra responde com frieza controlada.
— Oh, claro que não. Afinal, cavalgar ao lado de bardaxas, jeangles e órfãos... exige um tipo raro de coragem. Ou talvez seja moda agora — diz, erguendo a taça — a nobreza viajar com o povo para sentir-se... humana?
Tharion aperta os punhos debaixo da mesa. Aelys encurva o corpo, desconfortável. Orren dá uma mordida seca na carne.
— E você, jovem Tharion... — continua Sareth, virando-se lentamente para ele — como é caminhar ao lado do trono que nunca poderá alcançar?
— Melhor que rastejar em volta dele fingindo que ainda tem importância — responde Tharion, seco.
A sala gela por um instante. Mas Sareth apenas sorri, bebendo o vinho lentamente.
— Ah... o fogo nos olhos. Eu reconheço. Os Ursos sempre criavam bons soldados. Mas talvez... bons cães também.
— Cuidado com os cães, Lorde — Orren murmura. — São os únicos que mordem quando ninguém mais tem coragem.
Sareth se levanta suavemente, encerrando o jantar:
— Que noite encantadora. Desejo sonhos leves aos nossos convidados. Afinal, na Casa dos Dragões, até os pesadelos têm educação.
Ele se retira como uma sombra, deixando a tensão pairando como o perfume forte das flores nas janelas.
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