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Caminho de Varcrest para a Mansão Aerendyl — início da manhã
O grupo deixa a mansão em silêncio. A névoa cobre parte da estrada, mas o clima real está entre os olhares não trocados. Tharion não fala com ninguém. Kátyra segue à frente com Orren e Aelys, tentando ignorar o peso nas costas. O sol tenta romper, mas o dia se mantém morno e cinzento.
É quando um cheiro pútrido invade o ar.
— Que raios é isso? — Orren tampa o nariz.
Aelys aponta para a mata.
— Ali! Aquilo... se mexeu.
Uma criatura esguia, com pele acinzentada e coberta de líquens, se arrasta pela relva. Seus olhos são fundos, e o corpo exala um fedor tão intenso que chega a fazer os cavalos recuar.
— Não ataquem, isso atrai! — grita Aelys, lembrando-se dos estudos com mestres naturalistas.
Eles se dispersam, mas o odor já grudou nas roupas, na pele, nos cabelos. É como se a criatura deixasse uma marca invisível, quase mágica — persistente.
— Temos que nos lavar agora, antes que isso atraia caçadores de carne podre — alerta Orren, tirando o casaco.
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Rio das Pedras Azuis — logo depois
O grupo se banha às pressas. Kátyra, reservada, se afasta um pouco, despindo-se atrás de uma cortina de salgueiros. Aelys e Orren riem do banho gelado e disputam quem aguenta mais tempo na água.
É quando um enxame de abelhas selvagens, atraídas pelo perfume das ervas usadas por Orren, surge zumbindo entre os galhos.
— CORRE! — grita Aelys, fugindo com uma toalha na cabeça.
Orren tenta espantá-las, mas tropeça numa raiz molhada... e cai exatamente onde não devia:
Por cima de Kátyra, que estava despida, apenas com os cabelos molhados colados ao corpo.
O grito dela ecoa pelo vale.
Tharion surge instantes depois. O olhar encontra os dois no chão — Orren meio deitado sobre ela, os dois atônitos e molhados. A raiva sobe como uma labareda.
— Já não basta a noite de ontem?! — ele ruge.
— Não é o que parece! — Orren tenta se levantar, mas escorrega de novo.
— TIRA AS MÃOS DELA!
Tharion parte pra cima. Orren não recua. Os dois trocam socos fortes, jogando lama e água pra todo lado. Aelys tenta apartar, mas acaba levando um jato de barro no rosto.
— CHEGA! — grita Kátyra, furiosa, agora coberta por um manto de viagem improvisado. — Estão se comportando como animais!
Mas o estrago tá feito. Tharion encara Kátyra como se tivesse tomado um golpe.
— Você se deita com ele na mansão do velho Varcrest e depois brinca de pureza aqui?
— O quê?! — Kátyra grita, a voz carregada de indignação. — EU NÃO FIZ NADA!
— Eu ouvi, Kátyra. Os sons, as risadas... dentro do seu quarto.
— Você ouviu Aelys e Orren rindo de um baú cheio de brinquedos da infância dela! — Aelys se impõe. — Eu bati no pé da cama sem querer, idiota!
Silêncio. Tenso. Espesso.
Tharion desvia o olhar, sem saber onde enfiar a vergonha e a dor.
— Então eu... — ele recua um passo. — Eu me enganei?
— Não. Você julgou. Como sempre. — Kátyra vira o rosto, magoada.
É nesse instante que os irmãos do dia anterior reaparecem, montados em cavalos velozes.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta a irmã, olhando a cena dos três sujos, molhados e ofegantes.
— Só um pouco de verdade vindo à tona — diz Orren, cuspindo sangue e sarcasmo.
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— Mais tarde, estrada em direção à mansão do clã do Dragão
O grupo segue calado. Kátyra cavalgando à frente, Tharion atrás, sombrio e em silêncio. Aelys evita Orren, ainda ruborizada. Os irmãos novos trocam olhares, intrigados com a tensão no ar.
O clima está armado. E a chegada ao novo destino — uma mansão de opulência arrogante — promete ser palco de mais revelações.
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