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Chapter 49 - Capítulo 49 – O Véu da Ilusão

A brisa gelada cortava a pele de Ryouma e Tang San enquanto caminhavam por uma paisagem transformada. O que antes era uma escuridão opressiva agora parecia ser uma vasta e infinita paisagem nevoenta, cheia de névoa e sombras que se estendiam até onde os olhos não podiam alcançar. O chão estava coberto por uma camada de gelo fino, quase transparente, refletindo as silhuetas dos dois jovens como fantasmas perdidos em um espaço fora do tempo.

Eles haviam conseguido encarar suas próprias sombras, enfrentado o pesadelo das memórias e arrependimentos, mas aquilo, de alguma forma, parecia ser apenas o começo. A sensação de que estavam sendo testados além de seus limites era palpável. O Enigma do Destino continuava a se expandir diante deles, e eles sabiam que os desafios que viriam seriam ainda mais complexos e traiçoeiros.

— A sensação de estar sendo vigiado não sai da minha cabeça — comentou Ryouma, apertando os punhos com mais força. Ele havia aprendido a não subestimar nada nesse lugar. A luta contra as sombras de suas almas havia sido um desafio psicológico, mas ele sentia que o mais difícil estava por vir. — Alguma coisa aqui não está certa.

Tang San olhou para as nuvens carregadas no céu, que pareciam se mover de maneira irregular, como se fossem puxadas por uma força invisível. Seu olhar estava concentrado, atento a cada detalhe ao redor. Ele também sentia que algo estava prestes a acontecer.

— Não é só a sensação de ser observado — respondeu Tang San, sua voz calma, mas cheia de determinação. — Algo não está certo com esse lugar. Talvez seja uma armadilha... ou uma ilusão.

Quando ele terminou de falar, uma onda de pressão repentina os envolveu. O ar parecia espesso, pesado, como se uma força invisível estivesse tentando imobilizá-los. Ryouma sentiu sua energia espiritual começar a reagir, mas algo em sua essência estava distorcido, como se as próprias leis do universo estivessem sendo desafiadas.

E então, como se tudo ao seu redor fosse parte de uma grande cortina que estava sendo levantada, a visão deles mudou drasticamente. O cenário de neve e névoa foi substituído por uma grande cidade, que parecia ter surgido do nada. Era uma cidade antiga, de arquitetura impressionante, com enormes torres de cristal e ruas que se estendiam por quilômetros. Mas havia algo estranho, quase surreal, naquela cidade.

— Onde estamos? — perguntou Ryouma, os olhos piscando diante da súbita mudança no ambiente. A cidade à sua frente parecia familiar, mas ao mesmo tempo desconexa, como um sonho ou uma lembrança de outro mundo.

Tang San observou em silêncio. A cidade parecia ter um ar de grandeza, mas sua beleza era sombria, como uma lembrança de algo perdido. Era como se estivessem em um lugar fora do tempo, um espaço que existia apenas na interseção entre o real e o ilusório.

— Não sei... mas isso não é real — respondeu Tang San, com a certeza de quem já sentiu a ilusão antes. — Estamos sendo testados mais uma vez. Isso tudo é parte do Enigma do Destino.

Enquanto eles avançavam pela cidade, uma estranha sensação de déjà vu os acometeu. Cada passo parecia ecoar com o peso de memórias esquecidas, de lugares que pareciam ter existido em outras vidas, em outras realidades. Ryouma podia jurar que já vira aquelas ruas em algum momento, talvez em seus sonhos ou em sua vida passada. Mas isso não fazia sentido. Ele nunca estivera ali antes, e a cidade estava cheia de símbolos e detalhes que ele não reconhecia.

De repente, uma figura apareceu diante deles, interrompendo seus pensamentos. Era uma mulher, alta e de aparência etérea, com longos cabelos prateados que flutuavam ao redor de seu rosto como se estivessem sendo movidos por uma brisa constante. Seus olhos eram de um azul profundo, quase hipnótico, e ela olhou para Ryouma e Tang San com um olhar enigmático.

— Vocês finalmente chegaram — disse a mulher, sua voz suave e melodiosa, mas com um tom de pesar que os fez sentir um arrepio na espinha. — Eu estava esperando por vocês. O Enigma do Destino não se resolve com força ou habilidades. Ele se resolve com a aceitação da ilusão que nos prende. Só assim vocês poderão avançar.

Ryouma franziu o cenho. A mulher parecia saber mais do que estava disposta a revelar, e suas palavras ecoavam uma verdade que os dois ainda não compreendiam totalmente.

— O que você quer dizer com "aceitar a ilusão"? — perguntou Ryouma, tentando compreender o significado de suas palavras.

A mulher sorriu, mas não era um sorriso reconfortante. Era um sorriso que carregava uma sabedoria antiga, como se ela soubesse algo que eles ainda não podiam compreender.

— A ilusão é tudo o que vocês conhecem — ela disse, e sua voz parecia ecoar nas paredes da cidade. — Tudo o que acreditam ser real, tudo o que consideram ser a verdade... são apenas construções feitas por suas mentes. O Enigma do Destino não é um teste físico. Ele é um teste de percepção. Vocês precisam aprender a ver além das sombras e reconhecer o que está escondido dentro de vocês mesmos.

Tang San e Ryouma trocaram olhares. A mulher estava falando em enigmas, como se estivesse se referindo a algo muito além de sua compreensão. Mas, de alguma forma, as palavras dela estavam começando a fazer sentido.

— Então... esse lugar é uma ilusão? — Tang San perguntou, tentando compreender o que estava acontecendo. — Estamos sendo testados, mas o que é real e o que é falso aqui?

A mulher não respondeu imediatamente. Em vez disso, ela olhou para os dois com um olhar profundo, como se estivesse observando algo além do que eles podiam ver.

— O verdadeiro teste é este: quem são vocês, quando removem todas as camadas de ilusão que construíram ao longo de suas vidas? O que resta quando vocês tiram os adornos da verdade e enfrentam o núcleo de quem realmente são? — disse a mulher, sua voz carregada de um peso emocional profundo. — Aceitem a ilusão, e só assim poderão avançar.

Ryouma sentiu uma onda de confusão invadir sua mente. Ele havia enfrentado muitos desafios, lutado contra monstros poderosos e desafios espirituais, mas isso era diferente. Ele estava sendo forçado a confrontar algo mais profundo, mais oculto. Era um teste de sua percepção, de sua compreensão sobre quem ele realmente era, e isso o deixava vulnerável de uma maneira que ele não havia antecipado.

Ele olhou para Tang San, que também parecia imerso em seus próprios pensamentos.

— Isso tudo é uma armadilha, não é? — Ryouma perguntou, sem desviar o olhar da mulher à frente. — Não estamos em uma cidade real. Nenhum dos dois está aqui fisicamente. Isso é... uma ilusão para nos testar.

A mulher sorriu mais uma vez, mas desta vez seu sorriso era mais suave, como se ela estivesse reconhecendo sua luta interna.

— Tudo o que veem é uma manifestação do que suas mentes criaram. A cidade, as ruas, até mesmo eu... somos reflexos de suas próprias dúvidas e medos. E até que vocês aceitem isso, não poderão avançar. Somente quando perceberem que a verdadeira força não vem de lutar contra o mundo ao seu redor, mas de encarar o que existe dentro de vocês, poderão seguir em frente.

Ryouma sentiu uma sensação de clareza repentina, como se algo tivesse se encaixado em sua mente. Ele entendeu o que a mulher estava tentando dizer, mesmo que suas palavras continuassem vagamente enigmáticas. O desafio não era derrotar um inimigo físico. Era derrotar o que estava dentro de si.

Com um movimento súbito, Ryouma fechou os olhos e respirou profundamente. Quando os abriu novamente, a cidade ao seu redor começou a desaparecer. As ruas se desfezaram, e a figura da mulher foi envolta pela neblina. O que restou foi uma escuridão crescente, mas desta vez, Ryouma sentiu uma sensação de leveza. Ele havia superado a ilusão, mesmo que de forma inconsciente.

Tang San, ao seu lado, estava em silêncio, mas sua postura já demonstrava uma transformação interna. Ele também havia compreendido o teste.

O Enigma do Destino não era sobre lutar contra o que estava ao seu redor. Era sobre vencer as ilusões que eles mesmos haviam criado.

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