Cherreads

Chapter 77 - O Mundo Entre Mundos.

Um dia Atrás.

---

Palácio do Norte — Jardim dos Túmulos

A neve não caía. Ela flutuava.

Flocos suaves pousavam sobre as lápides esculpidas em mármore branco, e o vento sussurrava entre os salgueiros prateados. No centro do jardim sagrado, dois túmulos ladeavam-se como um par de sentinelas adormecidas:

Adam, o último urso.

Moira, a voz dos ventos antigos.

Dimitry estava ajoelhado entre eles, a cabeça baixa, a capa espalhada como asas escuras sobre o chão gelado. Os lábios se moviam em prece muda — não era uma oração ensinada. Era um pedido de perdão. Um apelo de filho. Uma promessa de homem.

"Eu tentei… juro que tentei. Mas o mundo mudou rápido demais. E minha filha… meu sangue... ela carrega fardos que nem eu compreendo."

O silêncio respondeu como um velho amigo.

Então, sem anunciar-se, uma mão pousou em seu ombro.

Coe.

O ancião da Casa do Grifo. O conselheiro que já vira três gerações sangrarem por justiça. Os olhos dele estavam marejados, mas firmes. Sem dizer palavra, ajoelhou-se ao lado de Dimitry.

Logo, outros vieram.

O capitão da guarda, com o elmo na mão e os olhos vermelhos.

As sacerdotisas do norte, seus mantos azuis dançando com o vento.

Os cavaleiros do Clã do Lobo, desceram das muralhas para unir-se em silêncio.

Grifos sobrevoaram em círculos lentos, como se também se curvassem à memória dos reis.

E pouco a pouco…

o Reino do Norte ajoelhou-se.

Pais abraçaram filhos.

Irmãos que não se falavam se tocaram no ombro, em silêncio.

Lágrimas caíram como chuva entre as pedras.

E o sopro do vento carregou uma única palavra entre todos:

"Unidade."

Era o momento antes do novo ciclo.

Era o mundo dizendo:

"Não estamos sós. Nem nos mortos, nem nos vivos."

Biblioteca de Cristal — Salão das Vozes Antigas

Globos de luz giravam em espirais suaves, e os livros sussurravam como oráculos despertos. Tharion, agora erguido diante de um antigo altar de pedra translúcida, tocava a superfície com as pontas dos dedos. O mapa se formava sozinho — uma projeção etérea flutuando entre runas e constelações.

Um ponto pulsava com intensidade.

Ruínas do Templo de Kôras.

Ele fechou os olhos, e com um gesto — selado pelo Sinete em sua pele — enviou a mensagem. Uma chama dourada ascendeu do altar, voando como ave imaterial pelas linhas do mundo, até o trono do Norte.

---

Palácio do Norte — Câmara de Guerra

Dimitry abriu os olhos ao toque do fogo-ave que pousou em sua mão. O mapa brilhou entre seus dedos, e por um instante, todos os generais presentes silenciaram.

Ele se levantou.

"Meus irmãos, minhas irmãs…

o tempo do medo passou.

Ergam-se. Não pelos reis que perdemos, mas pela esperança que restou.

Um novo fogo arde. E nós vamos segui-lo."

Com o punho cerrado, ergueu o mapa em chamas.

E um coro de gritos respondeu:

"Pelo Norte! Por Kátyra! Pela última Fênix!"

Espadas foram erguidas.

Tambores soaram.

Cavaleiros montaram.

E o Reino do Norte partiu.

---

Biblioteca de Cristal — Salão da Armaria Eterna

Caleum caminhou entre colunas de vidro e ouro. À sua frente, um manto estava estendido sobre uma armadura reluzente, banhada de luz viva, o emblema da Fênix Renascida gravado no peito.

"Agora, sim…" — disse ele, encarando Tharion com olhos antigos —

"…você é digno de ser chamado de rei."

Tharion respirou fundo. Tocou a armadura com reverência.

Depois, virou-se para Kátyra.

Ela o esperava em silêncio, os olhos úmidos, mas fortes.

Ele se aproximou, a tomou pelas mãos.

"Você sempre foi minha força… mas agora, preciso que seja minha promessa. Volte para casa. Espere por mim. Daqui a pouco... eu volto."

Beijou-a com o coração inteiro.

E antes que ela protestasse, já estava sendo colocada com delicadeza em uma carruagem de vidro levitante, cercada por guardiões do Clã do Grifo.

---

Salão das Armas

Aelys prendeu os cabelos num coque, desenhando runas de vento nos antebraços. Sua armadura lembrava asas dobradas — elegante, letal.

Orren apertava as correias de seu gibão de couro escuro, com o emblema do lobo prateado no ombro. No olhar dele, o peso de todas as perdas… e a voPerfeito. Hora de mergulhar em um plano onde o tempo não é tempo, onde os ecos da criação ainda sussurram nas bordas do real. O mundo entre mundos. Vamos lá:

---

Biblioteca de Cristal — Terraço do Véu

O céu acima tremia como vidro líquido. No centro da plataforma suspensa, Tharion, agora em sua armadura dourada, fechava os olhos, sentindo o poder pulsar em sua espinha como um trovão contido. O Sinete brilhava em sua mão. As runas no chão se acendiam uma a uma.

"Véus da Criação, escutem minha voz…"

"Abram caminho ao portador da Chave."

O ar se partiu com um estalo seco, como se o mundo tivesse respirado pela primeira vez em milênios.

Um portal surgiu.

Não como um círculo de luz — mas como uma fissura de realidade, onde os fragmentos do tempo rodopiavam em espirais vertiginosas. Viam-se sombras de si mesmos… ecos do que foram… lampejos do que poderiam ser.

Orren engoliu seco.

"Estamos indo pra onde, exatamente?"

Tharion respondeu sem virar o rosto.

"Para o lugar onde o inimigo nasceu…

…e onde o destino será reescrito."

Aelys soltou um meio sorriso e saltou primeiro.

"Se é lá que termina, que comece comigo."

Lysar olhou para a rachadura no mundo, a magia dançando em seus olhos, como quem reencontra uma lembrança esquecida.

"Este lugar… ele reconhece a nossa linhagem."

Tharion assentiu. Um passo à frente — e tudo mudou.

---

O Mundo Entre Mundos

Era silêncio, e era som.

Era noite sem estrelas… e aurora sem sol.

As quatro figuras flutuavam em um mar de névoa que oscilava entre passado e futuro. Pontes de cristal estendiam-se sem chão, sem lógica, como se a realidade obedecesse a vontades, não a leis.

Memórias dançavam ao redor deles.

Tharion criança.

Kátyra sangrando no altar.

Erizy nascendo envolto em sombra.

Adam morrendo com um rugido final.

Tudo ali era verdade. E nada era fixo.

Orren caiu de joelhos.

"Isso… isso não é um lugar. É um espelho do mundo."

Tharion andou até o centro, onde uma esfera flutuava — pulsante, viva, uma miniatura do universo.

"Este é o coração. Aqui está o que resta do selo antigo. Se o inimigo vier até aqui, ele pode desfazer tudo."

Lysar tocou a superfície com a palma da mão.

"O selo está rachado."

Aelys levantou os olhos.

"Então temos que lutar… onde as consequências são eternas."

Tharion girou a espada. O emblema da Fênix queimou em sua armadura.

"Não há mais volta."

E, à distância, uma figura se formava no nevoeiro.

Erizy… ou o que restava dele.

Metade sombra, metade relâmpago.

Olhos como buracos na criação.

E atrás dele… os Ataxas.

A batalha final começaria onde tudo começou.

More Chapters