Um dia Atrás.
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Palácio do Norte — Jardim dos Túmulos
A neve não caía. Ela flutuava.
Flocos suaves pousavam sobre as lápides esculpidas em mármore branco, e o vento sussurrava entre os salgueiros prateados. No centro do jardim sagrado, dois túmulos ladeavam-se como um par de sentinelas adormecidas:
Adam, o último urso.
Moira, a voz dos ventos antigos.
Dimitry estava ajoelhado entre eles, a cabeça baixa, a capa espalhada como asas escuras sobre o chão gelado. Os lábios se moviam em prece muda — não era uma oração ensinada. Era um pedido de perdão. Um apelo de filho. Uma promessa de homem.
"Eu tentei… juro que tentei. Mas o mundo mudou rápido demais. E minha filha… meu sangue... ela carrega fardos que nem eu compreendo."
O silêncio respondeu como um velho amigo.
Então, sem anunciar-se, uma mão pousou em seu ombro.
Coe.
O ancião da Casa do Grifo. O conselheiro que já vira três gerações sangrarem por justiça. Os olhos dele estavam marejados, mas firmes. Sem dizer palavra, ajoelhou-se ao lado de Dimitry.
Logo, outros vieram.
O capitão da guarda, com o elmo na mão e os olhos vermelhos.
As sacerdotisas do norte, seus mantos azuis dançando com o vento.
Os cavaleiros do Clã do Lobo, desceram das muralhas para unir-se em silêncio.
Grifos sobrevoaram em círculos lentos, como se também se curvassem à memória dos reis.
E pouco a pouco…
o Reino do Norte ajoelhou-se.
Pais abraçaram filhos.
Irmãos que não se falavam se tocaram no ombro, em silêncio.
Lágrimas caíram como chuva entre as pedras.
E o sopro do vento carregou uma única palavra entre todos:
"Unidade."
Era o momento antes do novo ciclo.
Era o mundo dizendo:
"Não estamos sós. Nem nos mortos, nem nos vivos."
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Biblioteca de Cristal — Salão das Vozes Antigas
Globos de luz giravam em espirais suaves, e os livros sussurravam como oráculos despertos. Tharion, agora erguido diante de um antigo altar de pedra translúcida, tocava a superfície com as pontas dos dedos. O mapa se formava sozinho — uma projeção etérea flutuando entre runas e constelações.
Um ponto pulsava com intensidade.
Ruínas do Templo de Kôras.
Ele fechou os olhos, e com um gesto — selado pelo Sinete em sua pele — enviou a mensagem. Uma chama dourada ascendeu do altar, voando como ave imaterial pelas linhas do mundo, até o trono do Norte.
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Palácio do Norte — Câmara de Guerra
Dimitry abriu os olhos ao toque do fogo-ave que pousou em sua mão. O mapa brilhou entre seus dedos, e por um instante, todos os generais presentes silenciaram.
Ele se levantou.
"Meus irmãos, minhas irmãs…
o tempo do medo passou.
Ergam-se. Não pelos reis que perdemos, mas pela esperança que restou.
Um novo fogo arde. E nós vamos segui-lo."
Com o punho cerrado, ergueu o mapa em chamas.
E um coro de gritos respondeu:
"Pelo Norte! Por Kátyra! Pela última Fênix!"
Espadas foram erguidas.
Tambores soaram.
Cavaleiros montaram.
E o Reino do Norte partiu.
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Biblioteca de Cristal — Salão da Armaria Eterna
Caleum caminhou entre colunas de vidro e ouro. À sua frente, um manto estava estendido sobre uma armadura reluzente, banhada de luz viva, o emblema da Fênix Renascida gravado no peito.
"Agora, sim…" — disse ele, encarando Tharion com olhos antigos —
"…você é digno de ser chamado de rei."
Tharion respirou fundo. Tocou a armadura com reverência.
Depois, virou-se para Kátyra.
Ela o esperava em silêncio, os olhos úmidos, mas fortes.
Ele se aproximou, a tomou pelas mãos.
"Você sempre foi minha força… mas agora, preciso que seja minha promessa. Volte para casa. Espere por mim. Daqui a pouco... eu volto."
Beijou-a com o coração inteiro.
E antes que ela protestasse, já estava sendo colocada com delicadeza em uma carruagem de vidro levitante, cercada por guardiões do Clã do Grifo.
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Salão das Armas
Aelys prendeu os cabelos num coque, desenhando runas de vento nos antebraços. Sua armadura lembrava asas dobradas — elegante, letal.
Orren apertava as correias de seu gibão de couro escuro, com o emblema do lobo prateado no ombro. No olhar dele, o peso de todas as perdas… e a voPerfeito. Hora de mergulhar em um plano onde o tempo não é tempo, onde os ecos da criação ainda sussurram nas bordas do real. O mundo entre mundos. Vamos lá:
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Biblioteca de Cristal — Terraço do Véu
O céu acima tremia como vidro líquido. No centro da plataforma suspensa, Tharion, agora em sua armadura dourada, fechava os olhos, sentindo o poder pulsar em sua espinha como um trovão contido. O Sinete brilhava em sua mão. As runas no chão se acendiam uma a uma.
"Véus da Criação, escutem minha voz…"
"Abram caminho ao portador da Chave."
O ar se partiu com um estalo seco, como se o mundo tivesse respirado pela primeira vez em milênios.
Um portal surgiu.
Não como um círculo de luz — mas como uma fissura de realidade, onde os fragmentos do tempo rodopiavam em espirais vertiginosas. Viam-se sombras de si mesmos… ecos do que foram… lampejos do que poderiam ser.
Orren engoliu seco.
"Estamos indo pra onde, exatamente?"
Tharion respondeu sem virar o rosto.
"Para o lugar onde o inimigo nasceu…
…e onde o destino será reescrito."
Aelys soltou um meio sorriso e saltou primeiro.
"Se é lá que termina, que comece comigo."
Lysar olhou para a rachadura no mundo, a magia dançando em seus olhos, como quem reencontra uma lembrança esquecida.
"Este lugar… ele reconhece a nossa linhagem."
Tharion assentiu. Um passo à frente — e tudo mudou.
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O Mundo Entre Mundos
Era silêncio, e era som.
Era noite sem estrelas… e aurora sem sol.
As quatro figuras flutuavam em um mar de névoa que oscilava entre passado e futuro. Pontes de cristal estendiam-se sem chão, sem lógica, como se a realidade obedecesse a vontades, não a leis.
Memórias dançavam ao redor deles.
Tharion criança.
Kátyra sangrando no altar.
Erizy nascendo envolto em sombra.
Adam morrendo com um rugido final.
Tudo ali era verdade. E nada era fixo.
Orren caiu de joelhos.
"Isso… isso não é um lugar. É um espelho do mundo."
Tharion andou até o centro, onde uma esfera flutuava — pulsante, viva, uma miniatura do universo.
"Este é o coração. Aqui está o que resta do selo antigo. Se o inimigo vier até aqui, ele pode desfazer tudo."
Lysar tocou a superfície com a palma da mão.
"O selo está rachado."
Aelys levantou os olhos.
"Então temos que lutar… onde as consequências são eternas."
Tharion girou a espada. O emblema da Fênix queimou em sua armadura.
"Não há mais volta."
E, à distância, uma figura se formava no nevoeiro.
Erizy… ou o que restava dele.
Metade sombra, metade relâmpago.
Olhos como buracos na criação.
E atrás dele… os Ataxas.
A batalha final começaria onde tudo começou.