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Interior da Biblioteca de Cristal — Ala das Estrelas Esquecidas
O chão cintilava como um espelho de gelo sob os pés dos que ficaram para trás. Aelys e Orren voltavam apressados do jardim, alertados pelos ecos de um choro contido.
Era Kátyra.
Sentada no meio do salão, com Liora nos braços e os olhos vermelhos de tanto procurar.
— Titos... Titos...
A Rainha Cora não estava. Tharion sumira. O medo crescia nela como uma avalanche prestes a despencar.
Até que uma rajada de luz lilás e dourada invadiu o salão.
E ele surgiu.
Tharion, ofegante, com cinzas ainda na pele e uma nova luz nos olhos.
Ao lado dele, Lyzar e Caleum, que se afastam com respeito. O Erudito os acompanha, mas permanece à distância.
Kátyra se levanta como um raio, quase deixando Liora cair. Mas Tharion já está ali, segurando a filha, abraçando a mãe. Eles se encontram no meio do salão como se o tempo tivesse voltado.
Ela soca o peito dele uma, duas vezes, com lágrimas e raiva e alívio.
— Você sumiu, seu idiota ardente!
— Eu sei... — Tharion sorri, com dor e ternura. — Mas voltei. E tenho que te contar tudo.
Eles se sentam entre colunas de cristal que ressoam com os murmúrios do passado.
Tharion fala. Das montanhas, do Julgamento, do fogo antigo. Das crianças. De seus pais. Do título que nunca quis — Rei do Sul.
E do mundo entre mundos, onde talvez Titos esteja agora.
Ele para, angustiado.
— Mas eu não sei como chegar lá, Kátyra. Não sei o que fazer. É um lugar entre os véus... algo que nem mesmo o Erudito entende por completo.
Kátyra respira fundo. Olha em volta. E pela primeira vez, ri, mesmo com os olhos ainda molhados.
— Tharion...
— O quê?
— Você tá me dizendo isso dentro da maldita Biblioteca de Cristal!
Aqui tem todo conhecimento do mundo, de dez mundos, de mundos que nem têm nome!
Você quer achar um caminho impossível, amor?
Ela se levanta, gira no próprio eixo e aponta para as estantes que sobem até o céu.
— A gente vai achar um mapa do impossível, ora essa. É só procurar!
Tharion a encara, como se acabasse de se lembrar por que enfrentou o mundo inteiro por ela.
Ele sorri.
— Você é louca.
— E você é meu. Agora vamos achar nosso filho.
E atrás deles, entre os espelhos curvos da Biblioteca, uma antiga runa começa a brilhar — como se o próprio lugar tivesse ouvindo a conversa.
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– "A Rainha nas Sombras"
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Palácio do Norte – Três dias depois.
A luz fria da madrugada se infiltrava pelas fendas das muralhas. A cerimônia do Selo Real começaria em minutos. E Cora... ainda não estava de volta.
Tharion se virou bruscamente ao ouvir o sussurro das asas.
— Lá! — Orren apontou para os céus. Um grifo branco cortava as nuvens — deslizava como uma flecha lunar.
— Ela veio — disse Tharion, aliviado. — Mas não temos tempo.
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O castelo estava agitado. Guardas em formação, os corredores começando a se encher de nobres e servidores. O velho Sinete — um artefato mágico que mantinha o equilíbrio entre os clãs — seria reativado diante do Conselho. Se não estivesse no pescoço da Rainha quando os sinos tocassem... a Casa do Grifo poderia ser acusada de traição.
Cora aterrissou com o grifo já quase dentro das muralhas, escondida pela névoa da manhã. Ela desceu num salto, o manto escuro cobrindo os cabelos prateados. Estava ofegante, suja de barro e folhas.
— Não há tempo para limpeza, — disse, firme. — Vamos direto ao quarto escuro.
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Orren abriu o corredor secreto atrás do salão de tapeçarias.
— A Rainha precisa passar despercebida. Tharion, vá na frente e distraia os guardas.
— Já estou indo — ele respondeu, puxando o capuz.
A travessia foi rápida. O som abafado dos sinos já começava a se espalhar — um primeiro toque, o de alerta. Cora chegou ao quarto escuro com o coração martelando.
O animal ainda estava lá.
— Ele não vai sair sem lutar — avisou Orren.
Mas Cora se aproximou com a mão aberta e os olhos faiscando em grego antigo. O espírito-dragão se encolheu. Ela sussurrou:
— "Eis que volta o elo, e com ele, o nome que me pertence."
O animal sumiu em um espiral de fumaça.
Orren segurou o Sinete, envolto num pano púrpura, e o entregou a ela.
Com as mãos firmes, Cora colocou o colar no pescoço no exato momento em que o terceiro sino soava. As portas se abriram. Guardas entraram.
Ela se virou com um sorriso calmo e régio.
— Estou pronta para o Conselho.
Tharion apareceu ao lado, limpando o suor da testa.
— Isso foi por pouco demais.
Ela sussurrou de volta:
— Que graça teria se não fosse?
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Perfeito! A tensão está no auge nesse momento. O clima do Conselho vai estar pesado, e a Rainha e o Rei vão estar jogando esse jogo de poder e disfarce, cada um mantendo suas máscaras e intenções ocultas.
Vou desenvolver a cena com bastante tensão e esse clima de encenação que você está criando:
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– "O Conselho das Sombras"
O grande salão do Conselho estava repleto de murmúrios. O eco das vozes afiadas das casas e clãs reverberava nas paredes de pedra. O sol da manhã mal se fazia presente, obscurecido pelas nuvens pesadas que cobriam o horizonte. As crianças desaparecidas eram o assunto da vez. Um silêncio desconfortável pairava sobre todos, como se o próprio palácio estivesse aprisionado.
O Rei Dimitry se mantinha em seu trono, imponente como uma montanha. Seus olhos, frios e calculistas, observavam a todos com precisão, mas sua expressão não entregava o mínimo sinal de cansaço ou preocupação. Ele estava perfeito em sua fachada. Seus dedos, finos e rigorosos, deslizavam sobre a mesa do Conselho, como se estivesse manejando peças num tabuleiro. Seu olhar só se voltava para sua esposa, Rainha Cora, quando ela foi conduzida para o salão.
Cora, com a cabeça baixa, entrava com passos contidos, o manto pesado arrastando sobre o chão de mármore. Seus olhos não tocavam ninguém, sua postura era submissa — mas dentro dela, as chamas de uma mulher ainda orgulhosa queimavam, aguardando o momento certo para se acender.
Dimitry levantou-se lentamente, todos os olhares dos nobres e clãs se voltando para ele. Ele estendeu as mãos e Cora, com a cabeça baixa, ajoelhou-se, beijando-as de maneira formal, uma saudação que transmitia poder e domínio.
Dimitry:
— Rainha Cora, aproveitou o silêncio da noite? O que se passou em seus pensamentos enquanto o reino se desfazia em lamentos? — Sua voz soou como um trovão abafado, mas a precisão de suas palavras era pura lâmina.
Ela não levantou os olhos, apenas inclinou-se um pouco mais, demonstrando respeito e submissão. Ela concordou com um leve movimento da cabeça, sem falar uma palavra. Seu silêncio era mais eloquente do que qualquer discurso.
Dimitry não se deu por vencido. Ele tinha que manter a aparência de controle, e não podia deixar brechas.
— O desaparecimento das crianças não lhe perturbou, minha rainha? — O olhar dele era como uma faca, afiada e cortante.
Cora, ainda com a cabeça abaixada, não respondeu. Só acenou com um leve movimento de cabeça, seu semblante fechado como uma muralha. Não havia mentira em sua expressão, mas também não havia sinceridade — apenas uma máscara feita de pura resignação.
Os olhares curiosos dos presentes fixavam-se nela, mas ela se manteve imperturbável, enquanto as palavras de Dimitry caíam pesadas sobre o ar tenso.
— Pois bem, — ele continuou, com um sorriso tão frio quanto as montanhas do Norte. — Que o reino volte à calma. Este Conselho se encerra por ora.
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A Rainha Cora foi então conduzida para fora do salão, ainda em silêncio, sua mente um turbilhão de pensamentos contidos. O que havia acontecido nas últimas noites? Qual era o verdadeiro preço que ela estava pagando por sua decisão de agir sozinha? O castelo estava agora como um campo de batalha psicológico, onde as aparências eram tudo, e as palavras eram venenos.
Dimitry, ao se sentar novamente em seu trono, observou a porta se fechando atrás de sua esposa. O semblante dele não mostrava emoção alguma, mas dentro dele uma tempestade começava a se formar. Ele sabia que Cora não se submeteria por muito tempo. Mas por enquanto, ele tinha o controle. O jogo estava apenas começando.