Cherreads

Chapter 47 - O Jardim das Sombras.

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Capítulo – O Jardim das Sombras

O grupo avançava por um vale esquecido, onde a névoa parecia respirar. À distância, o verde do campo havia sido substituído por uma palidez cinzenta. Orren foi o primeiro a notar o cheiro.

— Isso é... doce demais. Como mel azedo.

As flores negras cobriam o solo como uma praga silenciosa. Altas, com pétalas sedosas e escuras como breu, exalavam um aroma envolvente — mas havia algo de errado, algo que sussurrava ao instinto.

Aelys se ajoelhou ao lado de uma.

— Nunca vi nada assim... parece viva.

Quando tocou a pétala, um calafrio percorreu sua espinha. E então, as visões começaram.

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Delírios no Jardim

Orren viu sua irmã morta chamando-o de traidor.

Aelys se viu com asas negras, abandonando o templo de sua infância em chamas.

Tharion viu-se ajoelhado diante do corpo de Kátyra, com as mãos cobertas de sangue.

Kátyra viu-se coroada… mas sozinha. Todos haviam partido. Seu filho, Tharion, até seus pais. Ela gritava, mas ninguém ouvia.

Um a um, caíram de joelhos entre as flores, perdidos em visões. Foi Tharion quem lutou contra a ilusão primeiro. Ele mordeu o punho até sangrar, e a dor o despertou.

— Não respirem! — gritou. — Tapem os narizes!

Ele correu até Kátyra, sacudiu-a com força. Ela chorava no transe. Ele sussurrou:

— Volta, Kátyra… você não está sozinha.

Ela despertou com um grito, arfando, e agarrou o peito dele.

— Eu os perdi… todos…

— Eu estou aqui. E você me odeia às vezes, mas ainda estou aqui.

Ela sorriu entre as lágrimas.

Juntos, tiraram os outros dois das alucinações. Tharion usou seu manto como filtro para a respiração. Aelys queimou uma flor com magia sagrada, e o grito que a planta emitiu não era vegetal.

O Plano de Cora

Em paralelo, no Palácio do Norte, a Rainha Cora trabalhava incansavelmente com os mestres alquimistas. Ela criou um antídoto rudimentar a partir do néctar das próprias flores negras e da saliva de grifos jovens. As primeiras doses foram enviadas às aldeias por aves velozes, salvando dezenas de crianças.

Cora mal dormia. As mãos estavam feridas. Mas quando Dimitry entrou na sala, ela se ergueu com a mesma altivez de sempre.

— Isso vai salvá-los?

— Por agora, sim. Mas se a praga se espalhar para as águas...

Dimitry assentiu, sombrio. E então caminhou até uma mesa onde havia documentos, alianças e uma tiara de prata.

— Vamos precisar de estabilidade, Cora. O povo está assustado. A linhagem precisa ser honrada.

Ela entendeu o que ele queria dizer.

— Você está marcando a data?

— Discretamente. Sem cerimônia. Só os clãs principais. Ela não precisa saber ainda. Mas vai se casar.

Cora hesitou.

— E se ela se recusar?

Dimitry olhou pela janela.

— Então eu serei forçado a lembrar minha filha… que há um trono acima de todos os sentimentos.

Retorno ao grupo

A noite caiu, e o grupo acampou longe das flores, protegidos por runas traçadas por Aelys. Em torno da fogueira, ainda trêmulos, compartilharam fragmentos do que viram — exceto Tharion e Kátyra, que trocaram apenas olhares.

Foi nesse silêncio que se formou o início de uma aliança real entre os quatro. Uma amizade em meio ao veneno.

Mas Kátyra olhava o céu com pesar. Algo a incomodava profundamente.

E Tharion, mesmo cansado, sentia o cheiro do que viria.

O casamento. O dever. O fim da liberdade.

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