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Capítulo — Coroas de Cinzas e Promessas de Fogo
O Grande Salão do Palácio do Norte pulsava com uma solenidade silenciosa. As tapeçarias dos Clãs tremulavam suavemente sob as correntes de vento encantado que atravessavam os vitrais celestes. O brasão da Casa dos Ursos dominava o salão — mas agora era ladeado por dois estandartes: o da Casa do Grifo e o da Casa de Cristal.
Ao centro, erguia-se o trono de pedra negra entalhada, herança dos reis-guardadores. Mas havia dois assentos ali, lado a lado.
Dimitry vestia as cores da alvorada: branco com detalhes dourados, o símbolo do urso no peito. Seu semblante era sereno, embora seus olhos ocultassem o luto por Adam. Ao seu lado, Cora usava uma túnica prateada e azul, com um manto de penas encantadas que lembravam as asas de seu povo ancestral. Era a primeira vez, em séculos, que uma mulher do Clã do Ar partilhava o trono do Norte.
Os Guardiões reunidos — representando cada casta leal — formavam um semicírculo diante do casal. Eram figuras imponentes: os senhores do Clã do Trovão, os magos do Clã da Estrela, os guerreiros da Casa da Loba e até mesmo antigos rivais da Casa da Serpente, agora de luto por Erizy, supostamente desaparecido.
Adam jazia em honra no templo do Norte, mas sua presença era sentida ali.
Um velho sacerdote da linhagem dos Primevos ergueu o cetro de prata com olhos de safira. Sua voz reverberou como um trovão contido:
— Diante dos ancestrais, das pedras encantadas que sustentam estas terras, e do sangue de Adam ainda fresco sobre o altar da história… quem se apresenta para governar o Norte?
Dimitry deu um passo à frente. Sua voz foi firme, sem hesitação:
— Eu, Dimitry da Casa dos Ursos, filho de Adam, herdeiro do Norte, aceito o fardo da coroa e prometo proteger este reino com minha vida.
Cora, altiva, completou:
— E eu, Cora da Casa do Grifo, filha dos ventos e das alturas, consorte e rainha, juro honrar este povo com sabedoria, escudo e compaixão.
O sacerdote tocou a testa de ambos com o cetro. As pedras do salão brilharam em azul profundo, como se o próprio reino respondesse ao juramento.
Em seguida, um por um, os representantes dos clãs se ajoelharam diante deles.
— Pelo Clã da Loba, juramos lealdade!
— Pela Casa da Estrela, juramos sabedoria e escudo mágico!
— Pelo Clã do Trovão, entregamos espada e trovão!
— Pela Casa do Grifo, juramos céu e tempestade!
— Pela Casa de Cristal, prometemos visão e eternidade!
Por fim, o mais velho dos guardiões, com uma cicatriz que cruzava o rosto até o queixo, se adiantou. Ele se ajoelhou lentamente, tocou a pedra fria do chão com a testa e declarou:
— Que o Norte se levante sob a luz dos justos. Que as trevas recuem. Que a linhagem de Adam permaneça invicta até o fim do último inverno.
E o salão inteiro, em uníssono, respondeu:
— Assim será!
As trombetas soaram. A multidão no pátio gritou. Mas lá no alto, no último vitral do salão, um corvo negro pousava em silêncio.
E seus olhos ardiam em vermelho.
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