A leve brisa que antes atravessava as ruínas do Enigma do Destino agora parecia carregada de lembranças. O chão, antes etéreo e instável, havia se solidificado como se reconhecesse a coragem de quem por ali passara. Ryouma e Tang San avançavam em silêncio, cada passo um reflexo do peso das revelações que haviam vivido. O teste havia terminado — ao menos em aparência —, mas os ecos dele ainda rugiam no íntimo de cada um.
Não era mais uma questão de "se" haveria um conflito entre eles. A semente do inevitável já havia sido plantada.
A caminhada levou-os até uma clareira oculta por salgueiros ancestrais, onde uma lagoa negra refletia o céu sem estrelas. Ali, o ancião Bai Huo os aguardava. Sua figura curvada permanecia imóvel, olhos cerrados, como se meditasse há séculos à espera dos jovens.
Ryouma e Tang San pararam lado a lado, como irmãos de armas. Mas apenas por fora.
— Vocês chegaram até aqui com os pés lavados no sangue da dúvida — disse Bai Huo, abrindo os olhos. — E agora devem pisar nas brasas da verdade.
O velho se ergueu, e seus olhos dourados brilharam com um brilho sobrenatural. Com um gesto simples, ele abriu os braços e, ao seu redor, cinco pilares de fogo ergueram-se da terra. Cada chama pulsava com uma cor diferente, e dentro delas, figuras dançavam — sombras de guerreiros, sábios e monstros.
— Cada pilar contém uma Alma Queimada — explicou Bai Huo. — Fragmentos de seres que ultrapassaram os limites do mundo espiritual e se fundiram ao próprio tecido do destino. Cada um de vocês poderá absorver uma delas… mas cada alma tem um preço.
Ryouma se aproximou devagar, observando os pilares com olhos atentos. Seu sistema o alertou com mensagens translúcidas:
[Sistema Harmônico da Ascensão]➤ Interferência de Almas Ancestrais detectada.➤ Seleção adaptativa liberada. Escolha com base em afinidade e resistência espiritual.➤ Cuidado: absorção incorreta pode causar ruína mental.
Tang San observava em silêncio, mas seus olhos analisavam tudo. O jovem do mundo moderno sentiu a tensão aumentar entre eles. Era tênue, quase invisível, mas estava lá. A comparação inevitável. O desafio silencioso. Dois gênios em rota de colisão.
Ryouma então deu um passo à frente. Entre os pilares, um chamou sua atenção. Era envolto por uma chama azul-escura, quase negra. Dentro dela, uma figura esguia empunhava uma lâmina curva de energia, e seus olhos — vazios — transmitiam uma dor impossível de descrever.
— Essa alma... é uma assassina — murmurou Ryouma. — Não viveu pela glória, mas pela missão. Foi esquecida pelo mundo, mas se recusou a desaparecer.
Bai Huo sorriu, um canto da boca apenas.
— Escolha interessante. Ela chamava-se Ye Qingshui. No auge de sua vida, diz-se que matou três Títulos Douluo em uma única noite. Mas perdeu a razão no processo.
Ryouma olhou para a chama, e seu sistema brilhou novamente:
➤ Alma Compatível: 84%➤ Risco de Dissociação Espiritual: Moderado➤ Vantagens: Camuflagem Absoluta, Percepção Dimensional, Técnica Oculta "Lâmina do Silêncio"
— Eu aceito — disse Ryouma.
No instante seguinte, a chama o envolveu. Não houve dor — apenas um frio cortante que pareceu arrancar tudo o que era desnecessário dentro dele. Imagens invadiram sua mente: assassinatos silenciosos, passos em telhados, olhos chorando antes de morrer. Mas Ryouma permaneceu firme. Não rejeitou a dor. Ele a aceitou. A acolheu. Tornou-a sua.
Tang San observava, sério. Quando a chama desapareceu, Ryouma estava ajoelhado, ofegante, mas vivo. Seus olhos tinham mudado. Não era mais um garoto tentando entender o mundo. Era um predador que havia aceitado sua própria escuridão.
— Sua vez, garoto dos olhos duplos — disse Bai Huo.
Tang San se aproximou de outro pilar. O dele era prateado, dançava como uma névoa sob a luz da lua. A figura dentro era alta, vestida com uma armadura luminosa, e segurava um pergaminho fechado com sete selos.
— Ele se chamava Mo Tianyan — disse Bai Huo. — Um arquivista divino. Lutava com sabedoria em vez de força. Usava o conhecimento como arma e o silêncio como escudo.
Tang San fechou os olhos, e ao abri-los, já havia decidido.
— Eu também aceito.
A luz prateada o envolveu como uma bênção. Ao contrário de Ryouma, não houve trevas, mas um calor gentil, quase paternal. Ainda assim, Tang San suava. A mente dele foi inundada por diagramas, equações, histórias perdidas de antigos clãs espirituais. Quando a luz o soltou, ele não parecia mais tão jovem.
Ryouma ergueu-se. Tang San fez o mesmo. Agora ambos eram mais do que antes.
— O destino sorri para vocês — disse Bai Huo, voltando à posição sentada. — Mas um dia… sorrirá apenas para um.
As palavras pairaram entre eles, mais pesadas que qualquer golpe.
Naquela noite, quando deixaram a clareira, não disseram mais uma palavra.
Mas ambos sabiam que o caminho à frente não permitia dois reis.
E o primeiro passo já havia sido dado.