Max ignorou o apelo do amigo e mirou sua arma novamente, atirando em outro Sentinela. Leo sabia que não adiantava ficar ali e se escondeu sob outro carro.
Os Sentinelas logo estavam em cima de Max, que atirou no máximo que pôde, mas acabou sendo capturado. Leo olhou para os inimigos e rolou para o lado. Seu carro parecia vazio, mas Leo sabia que pelo menos o motorista estava lá dentro. Ele puxou uma faca de sua bota e saiu do esconderijo, rastejando. Aproximou-se silenciosamente e esfaqueou um dos Sentinelas no pescoço, dando a Max espaço para chutar o outro.
"Vamos lá, grandão, agora é dois contra um", Max disse em tom provocativo, e o Sentinela sacou uma arma, mas levou um tiro na cabeça.
"Aqui!" uma voz feminina chamou, e ela acenou para eles. Nia estava na porta do motorista do veículo dos Sentinelas. O corpo morto estava preso apenas pelo cinto de segurança.
Leo olhou para trás e não havia sinal da criança. Ele balançou a cabeça e seguiu Max, que mancava.
"Achei que você estivesse com outra equipe, Nia", Max disse à mulher de olhos estreitos e cabelo curto preto.
"Olhem só para vocês dois, brincando de heróis e levando tiro. Pensei em salvar suas bundas antes que vocês ganhassem o Prêmio Darwin", ela disse com um sorriso torto, seu tom pingando sarcasmo.
Leo limpou a garganta, evitando encarar seus olhos. "Vamos ver o que tem no carro e dar o fora daqui."
"Sim, capitão!" Nia fez uma saudação dramática. "Sua bravura é inspiradora", acrescentou, sua covinha aparecendo enquanto reprimia um sorriso.
Os três revistaram o carro, e tudo que encontraram foi munição, como esperado, armas novas, dois uniformes limpos, botas e algumas barras de ração.
"Não é muito, mas ajuda", Nia comentou, e os três se afastaram.
Eles não podiam usar os carros oficiais porque não só tinham rastreadores, mas também daria uma ideia de para onde os rebeldes tinham ido quando abandonassem o carro depois.
Leo olhou para trás uma última vez, procurando por qualquer sinal da menina. A rua estava vazia, mas seus soluços fracos ainda ecoavam em seus ouvidos, assombrando-o.
Eles caminharam por um tempo que pareceu eterno para Leo, até chegarem a uma velha porta de metal cercada por uma pilha de entulho. Max empurrou uma placa de metal quadrada e uma vigia apareceu. Ele afastou uma mecha de seu cabelo loiro sujo e aproximou um de seus olhos azuis claros. Logo, ouviram um mecanismo sendo ativado e a porta se abriu, permitindo que os três passassem, então se fechou.
O ar do acampamento era denso com suor e esperança rançosa. Paredes de metal gemiam, ecoando sua existência frágil.
"É melhor dar uma olhada nessa perna, Max", Leo disse, e Nia concordou, puxando o loiro para longe.
Leo continuou andando até chegar a uma porta de metal. Ele respirou fundo e bateu. "Leonardo Massey."
"Entre!" a voz grave do outro lado ecoou, e Leonardo abriu a porta, entrando no escritório. Uma mulher de cabelo curto e claro olhou para cima. "Sr. Massey."
Lexi Gallagher tinha cerca de quarenta anos, mas as rugas em seu rosto eram quase imperceptíveis. Seus olhos esverdeados estavam sempre alertas.
Ela sinalizou para Leo começar a falar. Ele relatou o que havia acontecido e colocou na mesa o que havia sido adquirido naquela excursão. Lexi suspirou.
"Obrigada, Sr. Massey. A garota ainda deve estar naquele perímetro, mas não podemos voltar lá agora. Os Sentinelas definitivamente irão atrás do comboio que não retornou à nossa sede."
Leo acenou com a cabeça, mesmo que isso pesasse sobre ele. A menina seria pega mais cedo ou mais tarde se ele não voltasse lá.
"Nem pense em ir lá. É uma ordem", Lexi disse, e Leo olhou para cima. "Eu conheço você. Sei que parece injusto para você, mas você sabe como as coisas funcionam, Sr. Massey."
Leo exalou, insatisfeito.
"Ela não devia ter mais que sete anos, Comandante. Eles vão acabar com ela."
Isto é, se ela sobrevivesse. Como ela comeria? Ela teria uma família, alguém para cuidar dela? Leo duvidava, ou ela não estaria vagando imprudentemente, sozinha.
"Não podemos voltar por pelo menos dois dias, sinto muito. Ela é uma criança", Lexi murmurou, sua voz suavizando por uma fração de segundo antes de endurecer novamente. "Mas não podemos salvar a porra de todo mundo, Massey. Você sabe disso."
Isso era algo que Leo gostava na Comandante: apesar de ter sido militar e um pouco rígida, ela não se segurava em dizer um palavrão ou dois quando necessário. Especialmente quando estava sendo sincera.
"Sim, Comandante. Posso me retirar?" Depois de olhar para Leo, Lexi acenou.
"Veja se o Sr. Sullivan está bem."
Leo inclinou-se levemente e saiu, indo para a enfermaria.
Max estava rindo, enquanto Nash Wade, o enfermeiro, tirou suas luvas e as descartou. Era óbvio para Leo que Max estava flertando, mas Nash era um osso duro de roer.
Um leve toque foi tudo o que Leo precisou fazer para Max parar de sorrir como um idiota e suspirar alto.
"Eu queria te dizer que volto amanhã, mas acho que isso não seria uma boa coisa", Max disse, e Leo o ajudou a sair da maca. "Te vejo por aí, bonitão."
"Não se eu te ver primeiro, idiota." O tom de Nash era plano, mas Leo não perdeu o leve sorriso que se formou em seus lábios.
'Talvez Max ainda tenha esperança', ele pensou. Namorar não era proibido, mas a maioria estava determinada a não dar rédea solta aos seus corações. Ninguém sabia quando seu parceiro iria em uma missão e não retornaria. Especialmente quando o ar não era muito confiável. Você ou era morto, ou capturado, ou ficava doente.
Mais tarde, depois de se lavar, era hora da refeição. Não era como se tivessem muito, mas mesmo que olhassem para o prato vazio, era melhor comê-lo juntos. Era um momento de compartilhar, e todos participavam.
"Vocês ouviram falar daquele novo carregamento? A elite acha que pode nos parar com suas ameaças vazias!", gritou Nia.
O fogo em seus olhos despertou algo em Leo. A rebelião não era apenas sobre sobrevivência; era uma busca implacável por dignidade, por reivindicar seu lugar em um mundo que preferia esquecê-los. Impulsionado pelo entusiasmo dela, Leo se aproximou, interessado na discussão que se desenrolava.
"Continua", ele disse para Nia, que tinha um sorriso malicioso no rosto.
"Então, é o seguinte. Todos sabemos que a maioria desses carregamentos tem bens para a Elite e, claro, comida de verdade. Sempre é fortemente guardado, para que escória como nós não tenha acesso", Nia disse.
Leo acenou com a cabeça. Comida de verdade era algo com que todos os sobreviventes sonhavam. Um mundo distante das rações que comiam. Quando as tinham.
Os rebeldes tentavam cultivar, mas a quantidade era escassa, devido ao solo terrível e à pouca água disponível. Sem mencionar a luz solar. Raramente tinham uma refeição 'decente', tendo que se contentar em conseguir as barras de ração que podiam. Ou enlatados que ainda estavam bons e disponíveis, algo muito raro de encontrar.
"Se é sobre comida, por que você está tão feliz falando sobre isso?", Leo perguntou a ela.