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Ainda no baile das estações

Ainda no Capítulo – O Baile das Estações (continuação)

Após a dança, como se os próprios deuses tivessem se curvado à vontade dele, Erizy guiou Kátyra pelas escadas laterais do salão. Ninguém os deteve. Era como se ele pertencesse àquele lugar, mesmo sendo um estranho.

Eles atravessaram uma porta ornamentada com símbolos lunares e chegaram à Sacada da Rosa Solar, onde os ancestrais observavam os céus em busca de presságios.

Lá em cima, o mundo parecia silencioso. O vento acariciava os cabelos prateados de Kátyra, e as estrelas surgiam como olhos antigos observando a Terra.

> "Olha para elas..." — disse Erizy, encostando-se no parapeito de pedra.

"Não brilham. Elas ardem. Cada uma… é uma morte à distância. E mesmo assim, chamamos de luz."

Kátyra ficou em silêncio por um momento, absorvendo a estranheza poética daquilo.

> "Nunca pensei nas estrelas como mortes." — ela respondeu.

"Sempre as vi como guias."

Erizy sorriu de canto, sem olhar para ela.

> "Talvez sejamos diferentes, tu e eu. Talvez... tu foste feita para seguir a luz. E eu, para entender o que ela queima."

Ela franziu o cenho, intrigada.

> "Por que me disseste isso?"

Erizy finalmente virou-se para ela. Os olhos dele estavam mais escuros que antes — não ameaçadores, mas... antigos. Como se escondessem milênios.

> "Porque esta dança que começou entre nós... vai cobrar um preço. Talvez não agora. Talvez não de ti. Mas haverá uma hora em que precisarás escolher entre o amor que acende… e o amor que consome."

Ela recuou um passo, confusa.

> "Tu falas como se soubesse o que vai acontecer."

Ele hesitou… e então murmurou:

> "Eu sei o suficiente para saber que nem todos os que te amam te salvarão. E nem todos que te ferirem serão teus inimigos."

Antes que ela pudesse perguntar mais, ele se aproximou e tocou suavemente sua testa com a dele — um gesto antigo entre alianças verdadeiras.

> "Se te perderes... olha para as estrelas. Uma delas ainda arde por ti."

Então, sem mais uma palavra, Erizy se afastou, desaparecendo por um arco envolto em trepadeiras douradas.

Kátyra ficou sozinha ali, o coração pulsando em um ritmo estranho. Havia algo naquele rapaz que ecoava nela... como uma profecia esquecida. Mas também havia um frio súbito que nem o vento do norte explicava.

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Lá dentro, Tharion ainda a procurava. E no alto da torre, Moira murmurava um antigo feitiço de proteção. Ela tinha sentido. A estrela errante havia descido à Terra — e com ela, vinham as escolhas que mudariam tudo.

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