Cherreads

Chapter 79 - Fim E Princípio.

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O campo silenciou.

O fogo de Kátyra queimava sem consumir.

Ela flutuava sobre todos —

a Rainha dos Dragões, Senhora da Última Chama.

O céu escureceu, depois brilhou como ouro líquido.

Ela desceu... lentamente... e pousou diante de Ishelan.

Ele urrava. Espumava.

Mas seus olhos traíam o medo.

Ela estendeu a mão, serena.

Colocou-a sobre a cabeça dele.

E sussurrou, com a voz de mil gerações:

— "O fim começa com o silêncio."

Ishelan gritou.

Seu corpo endureceu.

A pele rachou como terra seca.

E em segundos... virou pedra.

Petrificado.

Eterno.

Condenado a contemplar o brilho que tentou apagar.

Tharion se aproximou.

Com a espada ainda envolta em trovões.

Olhou para Kátyra. Ela assentiu.

— "Pelo sangue derramado.

Pelos filhos perdidos.

Pela luz que insistiu em arder."

E o golpe caiu.

A estátua de pedra explodiu em pó dourado, que se espalhou no ar como cinzas de estrela.

E então…

Flores nasceram.

Por todo o campo:

Tulipas cor de fogo, margaridas luminosas, flores de cristal que cantavam ao vento.

O perfume da vitória cobriu o mundo.

E os gritos de guerra viraram gritos de vida.

— "VITÓRIA!"

Alyes levantou sua lança. Orren ergueu a bandeira com o brasão dos Ursos.

Lyzar caiu de joelhos e chorou.

Dimitry abraçou Tharion.

Kátyra caiu nos braços dele.

A guerra tinha acabado.

Mas a lenda...

a lenda estava apenas começando.

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---Dia seguinte

SALÃO DOS URSOS – AO CREPÚSCULO

Os vitrais derramavam cores douradas sobre o chão de mármore.

Harpas suaves. Tambores discretos. Risos tímidos.

A música do recomeço.

Tharion estendia a mão para Kátyra, os olhos cravados nela como quem reencontra o sol após longos invernos.

Ela aceitou, e os dois deslizaram pelo salão como se os pés não tocassem o chão.

[NARRAÇÃO – VOZ DE THARION]

"O sorriso dela move o mundo.

A alma dela já foi quebrada mil vezes… e mesmo assim, ela sorri.

Eu amei muitas coisas na vida…

Mas nada como amo o jeito que ela insiste em existir, mesmo quando tudo desaba."

Rodopiam. A sala gira com eles. A memória de batalhas ainda vibra nas paredes.

Mas ali...

há apenas luz.

"Sim, houve dor.

Sim, houve guerra.

Mas nós…

nós resistimos."

Kátyra apoia a cabeça no peito dele. Os olhos fechados.

Uma lágrima escapa, e Tharion a beija.

"Porque onde há amor, há retorno.

Onde há fogo, há renascimento.

E onde há ela…

há lar."

A música sobe.

O mundo respira.

E os dois dançam como quem sabe: agora, é para sempre.

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Capítulo – O Silêncio que Segue a Tempestade

A luz suave da manhã entrou pelas janelas quebradas do Palácio do Norte, iluminando o caos da noite anterior. Restos de madeira carbonizada, tecidos rasgados e estandartes desfeitos espalhavam-se pelo chão, como vestígios de uma guerra que ainda ecoava nas paredes.

As criadas começaram cedo. Uma a uma, elas limpavam o salão principal, removendo os estilhaços das vidraças e os vestígios da batalha. Algumas ainda estavam em silêncio, como se o peso da carnificina as mantivesse em uma espécie de transe. Outras conversavam baixinho, sussurrando sobre os heróis que estavam entre os vivos e os que se foram. Falavam de Adam, de Dimitry, de Kátyra e Tharion... e até das crianças que retornaram, com olhos grandes e curiosos, mas com o medo ainda escondido sob a alegria.

Kátyra passeava pelos corredores do palácio, com passos firmes e cabeça erguida, mas seus olhos estavam distantes. A batalha fora vencida, mas ela sabia que as cicatrizes — tanto internas quanto externas — levariam tempo para se curar.

As portas do salão se abriram com um rangido, e Dimitry entrou, ainda com a armadura intacta, mas a face marcada pela exaustão.

— Kátyra — chamou ele, sua voz reverberando na grande sala vazia. — Há algo que precisamos discutir.

Ela virou-se para ele, os cabelos prateados caindo sobre seus ombros. As marcas de guerra ainda estavam visíveis, mas havia algo mais em seu olhar: uma determinação tranquila.

— O que foi, pai?

Dimitry olhou em volta, observando a atividade ao redor, os homens e mulheres se movendo rapidamente para restaurar a ordem, tentando recobrar o que foi perdido.

— O palácio se refaz. Mas o reino... o reino precisa de algo mais agora. — Ele hesitou, o peso das palavras que diria a seguir visível em seu rosto. — E nós sabemos o que está por vir. Os Darxas... não vamos parar por aqui.

Kátyra assentiu, seus olhos ainda fixos no horizonte, como se visse algo distante. Ela sabia que a batalha estava longe de terminar.

— Eu sei, pai. Eu sei.

Ela deu um passo à frente e, com um gesto, indicou que ele a seguisse.

— Mas antes de qualquer outra coisa, precisamos garantir que o que restou... seja guardado. Os sobreviventes. As alianças. O futuro, Dimitry. Não podemos mais permitir que ele seja forjado apenas em sangue.

Dimitry olhou para ela, percebendo a mudança. Ela não era mais a princesa do Norte que pensava que poderia se esconder atrás de uma coroa ou de um trono. Não era mais a menina que tinha medo do poder que carregava. Ela era agora a verdadeira rainha que seu povo necessitava.

E naquele momento, sem palavras, ele percebeu que as próximas decisões não seriam mais suas. O reino não apenas aclamaria a filha do rei — ela se tornaria o farol de tudo o que ainda estava por vir.

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