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Chapter 27 - O Baile dos Espelhos.

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Capítulo XV — "O Baile dos Espelhos"

A neve caía silenciosa sobre os telhados do Palácio de Real. O ar era frio, mas a noite fervilhava com a expectativa. Nobres de todos os clãs marchavam em direção ao salão de mármore, trajando sedas e armaduras polidas, como se os horrores dos últimos anos pudessem ser enterrados sob o véu da festa.

Lustres de cristal flutuavam, girando lentamente como estrelas presas, iluminando o salão com magia ancestral. As paredes refletiam as imagens distorcidas dos convidados — um verdadeiro baile de espelhos, como se os rostos não pertencessem exatamente aos corpos que os carregavam.

No alto da escadaria, Adam surgiu, envolto em um manto negro com bordados prateados. Seus olhos brilhavam com algo mais do que vida: conhecimento antigo, como se cada passo seu ecoasse milênios. Atrás dele, dois golens de obsidiana marchavam em silêncio, como estátuas despertas. Homúnculos espreitavam nas sombras, prontos para se tornarem o que fosse necessário.

O rei levantou a mão. O salão silenciou.

— Sejam bem-vindos ao fim de uma era... e ao nascimento da próxima.

Kátyra surgiu logo depois, trajando sua coroa de gelo e um vestido prateado como relâmpago. Ao seu lado, seu filho — o pequeno herdeiro — caminhava com a cabeça erguida, fitando os convidados com o mesmo olhar de Adam.

Erizy apareceu por fim, impecável em vestes douradas. Seus olhos escuros faiscavam arrogância e controle. Mas, por um instante, algo atravessou o ar — uma vibração sombria, sentida apenas por aqueles mais sensíveis à magia: uma presença errada. Não humana. Não nefilim.

Darxas sentados nas sombras trocaram olhares. O patriarca deles, um ancião encapuzado de túnicas vinho, anotava tudo em silêncio. Eles sabiam. Estava quase na hora de revelar o que vinham investigando em segredo: Erizy era um Ataxa.

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Do lado de fora, Tharion, ainda ferido, observava o baile de uma das torres laterais, acompanhado de Jeangles leais. Seu rosto estava pálido, mas seus olhos mantinham o foco. Esperava o sinal. Esperava ela.

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Enquanto a música ecoava, Adam chamou Dimitry para uma sala reservada, onde os ecos da festa não alcançavam.

— O que vou fazer esta noite pode custar minha vida. — começou Adam, erguendo uma esfera de cristal que brilhava com runas antigas. — Mas se eu cair, você deve subir. Não por sangue, mas por visão. Este mundo precisa de uma liderança que lembre, não que esqueça.

Dimitry tocou a esfera. Sentiu o calor. O poder. E a memória.

— E Kátyra? — perguntou. — Ela está pronta?

— Ela é a tempestade que carregamos no ventre das eras. E o menino... ele será mais do que qualquer um de nós.

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Na sacada principal, Kátyra encontrou um bilhete escondido sob a taça de vinho. Um simples símbolo: o grifo. Seu coração parou. Cora. Sua mãe estava viva.

Antes que pudesse reagir, o salão mergulhou numa sombra repentina. As luzes tremeram. Um estrondo sacudiu as janelas.

E então, Adam falou, diante de todos.

— Nesta noite, revelarei o verdadeiro rosto do traidor entre nós.

A cortina caiu. Atrás dela, um homúnculo com o rosto de Erizy surgiu, transmutando-se lentamente em uma criatura que os presentes não reconheciam.

Uma aura negra se ergueu ao redor de Erizy. Seus olhos arderam como carvão vivo. Ele sorriu.

— Chegou a hora.

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