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Chapter 63 - Capítulo 63 – O Eco do Selo Quebrado

O ar se partiu.

Como um tambor ancestral sendo golpeado pela primeira vez em eras, o som da rachadura no cristal reverberou em ondas invisíveis por toda a Floresta da Estrela Douluo. As árvores curvaram-se sob o impacto. O chão gemeu. Animais espirituais fugiram em pânico, instintos berrando em uníssono: fujam.

Ryouma deu um passo atrás, o olhar fixo no ser dentro do cristal. Aquela única abertura nos olhos da criatura era mais do que apenas um sinal de vida — era uma mensagem. Um alerta. Um lembrete de que algo além da compreensão dos humanos estava prestes a ser liberado.

Tang San manteve a postura, seus fios de energia azulada dançavam como serpentes prontas para morder. Xiao Wu, embora mais sensível, manteve-se firme, e os outros alunos da academia recuaram ligeiramente, hesitando diante do que sentiam, mas não compreendiam.

— Isso não é um espírito selvagem... — murmurou Tang San. — É algo muito além disso.

Ryouma permaneceu calado. Seu Sistema reagia como nunca antes.

[Alerta: Quebra de Selo Divino Incompleta][Energia Primordial detectada – Condições instáveis][Rota de interferência disponível: 2.4% de sucesso][Deseja tentar interromper a liberação?]

Ele hesitou. Só 2.4%? Era suicídio.

Mas então algo dentro dele sussurrou. Não o Sistema. Não uma voz externa. Era algo ancestral. Familiar. Como se o fogo que se fundira com ele — aquele fragmento de chama viva no capítulo anterior — estivesse tentando se comunicar diretamente.

"Observe. Apenas observe."

A rachadura se espalhou mais um pouco, um estalo alto ecoando como vidro se quebrando em câmera lenta. O cristal flutuante girou lentamente, e a energia vermelha-púrpura ao redor se intensificou. Correntes feitas de runas douradas envolveram o ser preso em seu interior — e estavam sendo corroídas.

— Isso vai despertar. Com ou sem nós — disse Ryouma, finalmente.

Tang San olhou para ele, os olhos azuis intensos.

— Não podemos permitir que algo assim vague por esse mundo. Não sem entender o que é.

— Então temos duas opções — respondeu Ryouma. — Ou destruímos o selo agora, enquanto ele ainda está incompleto... ou tentamos fortalecê-lo novamente.

— Com que poder? — perguntou Xiao Wu, franzindo o cenho. — Vocês dois juntos mal conseguiriam conter um espírito de 20 mil anos. Isso aí... é algo que não segue regras normais.

Ryouma se ajoelhou e encostou a palma da mão no chão. Uma energia fria percorreu seus braços até alcançar seu peito. Seu segundo espírito marcial, ainda oculto para o mundo, reagiu por instinto. A maré dentro dele se agitou.

Tang San percebeu.

— Você tem dois espíritos — disse em voz baixa. — E o segundo... ainda está adormecido.

— Mais ou menos — respondeu Ryouma. — Ele está prestes a acordar.

Nesse instante, o cristal se rompeu por completo.

Não foi uma explosão. Foi um colapso silencioso, como se o próprio espaço ao redor tivesse desistido de manter sua forma. O cristal virou pó antes de tocar o chão. E a criatura no interior caiu de joelhos, envolta em fumaça negra, asas dobradas para trás, as correntes douradas ainda prendendo-lhe os braços.

Ela ergueu o rosto.

E seus olhos... não tinham pupilas. Apenas vazio.

Uma voz ecoou sem som, atingindo diretamente as mentes dos presentes:

— Quanto tempo... estive... dormindo?

Tang San cambaleou, sentindo como se sua alma estivesse sendo observada. Xiao Wu se encolheu, instintivamente ativando sua forma de coelho. Os outros caíram inconscientes.

Ryouma ficou de pé.

Seu corpo tremia, não de medo, mas de... sintonia.

A criatura olhou diretamente para ele.

— Você... não pertence a este mundo... e ainda assim... carrega sua verdade.

Ryouma não respondeu. A criatura se ergueu totalmente agora, com mais de dois metros de altura, pele translúcida como cristal negro, asas que pareciam feitas de sombras líquidas e cabelos longos como teias cósmicas. As correntes em seus braços vibraram.

E então, uma explosão de energia se espalhou.

Tang San agiu primeiro, lançando suas agulhas ocultas em um arco perfeito. As armas acertaram o ar... e foram dissolvidas como poeira.

Ryouma ativou os Olhos da Fenda. Por um segundo, viu três futuros:

Se corresse, morreria com os outros.

Se lutasse com tudo, seria selado junto da criatura.

Se falasse...

Ele respirou fundo.

— Qual é seu nome?

A criatura hesitou. Pela primeira vez, o fluxo de energia cessou. As correntes em seus braços estremeceram. O vazio em seus olhos brilhou com um tom distante de humanidade.

— Eu fui chamado de muitos nomes... mas no começo... era apenas "Daelus".

— Você foi selado... por quê?

— Por ser o que fui criado para ser. Um Juiz. Um Despertador. Um Traidor.

O mundo pareceu parar.

Tang San deu um passo à frente.

— Está tentando manipulá-lo, Ryouma.

Ryouma assentiu. Mas seus olhos não deixaram a criatura.

— Você quer liberdade. Mas e o que acontece depois?

Daelus sorriu. Foi um gesto triste. Antigo.

— Depois? Eu sumo. O mundo me esquece. Não posso existir aqui por muito tempo. Esta era... não é minha.

Ryouma sentiu a verdade naquelas palavras.

[Atualização do Sistema: Registro Ancestral desbloqueado][Acesso parcial concedido: "Fragmentos de Daelus"][Memórias disponíveis: 1% – Requer Sincronia Avançada]

— Você está... morrendo? — perguntou ele, surpreso.

— Sim. Mas antes... escolherei um herdeiro. Um portador do Julgamento Verdadeiro. E apenas um de vocês pode suportar isso.

Olhou entre Tang San e Ryouma.

— Aquele que aceitar... nunca será o mesmo. Nunca poderá voltar.

O mundo começou a tremer de novo. Não por fúria. Mas como se o tempo estivesse acelerando ao redor deles. A própria realidade tentando forçar Daelus a desaparecer.

— Decidam — disse o Juiz.

Tang San hesitou.

Ryouma avançou.

— Eu aceito.

Tang San se virou para ele.

— Você não sabe o que está fazendo!

— Não, Tang San — disse Ryouma. — Eu sei exatamente o que estou fazendo. Porque tudo isso... tudo mesmo... já foi escrito antes.

Ele estendeu a mão.

E tocou Daelus.

Uma luz negra se espalhou pelo mundo.

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