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Chapter 42 - Capítulo 42 – Os Véus do Início

O silêncio nas profundezas era quase absoluto. A única coisa que se ouvia era o eco dos passos de Tang San e Ryouma enquanto desciam a escadaria esculpida diretamente na rocha. A iluminação vinha de filetes de energia que serpenteavam pelas paredes, como raízes luminosas pulsando com uma força antiga. A escada parecia não ter fim, descendo em espiral como se quisesse levá-los ao próprio núcleo do mundo.

Ryouma apertou os punhos. Mesmo sem olhar para Tang San, podia sentir a tensão crescente entre eles. Não havia mais ingenuidade entre os dois. Caminhavam juntos, sim, mas cada um sabia que, no fundo, poderiam se tornar inimigos a qualquer momento.

— Isso parece... um teste do próprio plano do mundo. — disse Ryouma, finalmente quebrando o silêncio.

Tang San respondeu apenas com um aceno, mas seus olhos não deixavam de examinar o caminho. A percepção de perigo dele era afiada — algo construído por anos de experiência. Mesmo assim, o que enfrentavam agora ia além de qualquer lógica.

E então, como se o destino os aguardasse, a escadaria terminou. Diante deles havia um arco negro, adornado com inscrições em uma língua esquecida. Ao passarem por ele, o mundo pareceu virar do avesso.

O chão desapareceu.

O céu se abriu.

E tudo se tornou vazio.

Não era um espaço real, mas uma dimensão espiritual, onde o tempo e a gravidade não tinham significado. Ryouma se viu flutuando, o corpo rodeado por luzes que dançavam ao seu redor. Tang San estava ao lado, flutuando também, os olhos semicerrados.

— Este é o primeiro Véu? — Ryouma perguntou.

Uma nova voz surgiu, desta vez feminina, melodiosa e antiga.

"Primeiro Véu: O Véu da Verdade Esquecida. Aqui, a mentira que se tornou verdade será confrontada com a lembrança que foi apagada."

Com essa declaração, a luz ao redor se condensou, criando uma cena diante deles.

Era a Cidade Céu Azul, a vila natal de Tang San.

Mas não era como ele lembrava.

— Isso... — Tang San sussurrou, avançando. — Isso está errado...

As casas estavam em ruínas, os aldeões corriam em pânico, e no centro da vila havia um homem de manto escuro empunhando um martelo gigantesco envolto em chamas negras. O símbolo dos Clãs Céu Azul jazia quebrado no chão.

E ali, de pé diante do caos, estava Tang Hao, o pai de Tang San — só que com olhos vazios e uma risada enlouquecida.

— Isso é uma mentira! — Tang San gritou. — Meu pai... ele nunca faria isso!

A voz feminina ecoou novamente:

"E, ainda assim, essa é a versão da história que foi suprimida. Os erros que ele cometeu, os massacres que causou antes de se esconder... Tudo apagado em nome de um bem maior."

Tang San deu um passo à frente, a Raiz Azul Prateada já se estendendo ao redor dele, como uma selva de lâminas. Mas Ryouma pousou a mão em seu ombro.

— Não é real... — murmurou. — Isso é o Véu. Ele mostra o que foi escondido. Talvez... algo que nem você deveria saber ainda.

Tang San respirou fundo, recuando. A imagem diante deles se desfez como fumaça. A dimensão voltou a se estabilizar.

"Primeiro Véu superado."

Em seguida, uma segunda luz surgiu. E, desta vez, a cena que se formava era do mundo moderno.

Era o quarto de Ryouma. Os monitores desligados, as luzes apagadas. E ali, deitado em sua cama, estava ele mesmo, com um semblante de derrota.

O verdadeiro Ryouma.

O Ryouma antes da morte.

— Isso é... — ele parou, a garganta seca.

A cena mostrou os momentos finais antes de seu coração parar. Não houve heroísmo. Nenhuma glória. Apenas um jovem destruído por expectativas, esmagado por um mundo que só queria consumir.

Tang San observou calado, respeitoso.

— É por isso que você é assim? — perguntou, não com julgamento, mas com curiosidade.

Ryouma não respondeu de imediato.

— Eu achava que, vindo pra cá, conseguiria ser alguém diferente. Alguém... livre. Mas a verdade é que só troquei de prisão.

"Primeiro Véu superado. Preparando acesso ao Segundo Véu: A Muralha do Ego."

Subitamente, a dimensão se partiu em dois. Tang San e Ryouma foram separados, cada um lançado para um lado.

Ryouma caiu sobre uma plataforma de pedra suspensa no vazio. Diante dele, surgiu uma figura igual a si mesmo — mas com uma aura sinistra, envolta em escuridão e arrogância.

— O que é isso agora...? — sussurrou, erguendo os punhos.

— Eu sou você — respondeu a sombra. — A versão que aceitou o sistema por completo. Que abraçou o poder acima de qualquer vínculo humano. Aquela que venceu Tang San... e destruiu Douluo Dalu com um sorriso nos lábios.

Ryouma deu um passo atrás. O chão estalou.

— Você é o que eu poderia ter sido...

— Não. Eu sou o que você ainda pode se tornar.

A batalha começou ali mesmo. Mas não era uma luta comum. Cada golpe trocado era um choque de convicções, cada troca de olhares um confronto entre intenções.

Enquanto isso, Tang San enfrentava algo parecido — mas diferente.

Seu adversário era um Tang San mais velho, endurecido pelo tempo, portando o Martelo do Céu Claro sem hesitação. Um Tang San que havia abandonado as emoções em prol da perfeição marcial.

— Você se segura demais, Tang San — disse o outro. — Por isso será superado.

Tang San respirou fundo. Sabia que aquele teste era necessário.

Horas — ou minutos? — depois, ambos emergiram das provações, exaustos. O espaço começou a se reformar, voltando à escadaria.

Eles se encararam. Estavam diferentes.

— Isso não é só um teste... — disse Tang San. — É uma metamorfose.

— E estamos apenas no segundo Véu — completou Ryouma, sorrindo com cansaço.

Do fundo da escadaria, um novo brilho surgiu, mais quente, mais vivo.

Era o Terceiro Véu.

E o caminho apenas começava.

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