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Chapter 18 - Capítulo 18 – O Eco da Destruição

A madrugada havia chegado, trazendo consigo um silêncio denso, quebrado apenas pelo som do vento que parecia sussurrar segredos antigos. Ryouma estava sozinho, sentado em uma pedra na borda de uma falésia. A vista à sua frente era vasta, um mar de árvores que se estendia até onde os olhos podiam ver, como se ele estivesse no topo do mundo. Mas dentro dele, havia algo que se agitava, uma tempestade silenciosa que ele ainda não conseguia controlar completamente.

A sensação de poder se tornara uma companhia constante. A energia do Desespero Primordial pulsava em suas veias como uma chama que nunca se apagava. Ele sentia o poder em cada fibra de seu ser, mas sabia que essa chama poderia facilmente consumir tudo o que ele era se ele não fosse cuidadoso.

O sistema, que até então havia se mostrado uma presença constante, agora se tornara mais discreto. Como se estivesse apenas observando, esperando por algo. Ryouma não sabia se o sistema tinha consciência de sua crescente desconexão com ele, mas algo dentro de si indicava que ele estava começando a transcender a simples utilidade do sistema.

Ele fechou os olhos por um momento e tentou focar. Sua respiração profunda e calma não era o suficiente para afastar a sensação de que algo estava prestes a acontecer. Algo que ele não poderia controlar, não completamente.

— O que eu estou buscando? — ele murmurou para si mesmo, a pergunta vazando da mente para o mundo ao redor. — Poder? Vingança? Ou algo mais?

A resposta não veio imediatamente, mas a resposta silenciosa parecia ecoar na própria natureza ao redor dele. A conexão com o Desespero Primordial era mais forte do que ele imaginava. Mais do que apenas poder, havia algo mais… algo que ele ainda não compreendia completamente.

De repente, a terra ao seu redor tremeu ligeiramente. Não foi um grande terremoto, mas algo menor, mais sutil. A vibração percorreu o solo, fazendo as árvores se balançarem levemente. Ryouma se levantou imediatamente, sua atenção focada na alteração que sentira.

Uma presença.

Uma presença familiar.

— Você… — Ryouma sussurrou, seus olhos se estreitando.

De entre as árvores, surgiu uma figura conhecida. Lan Mu apareceu, mais uma vez, sem fazer barulho, como se o próprio vento o tivesse trazido. Mas agora, sua postura estava mais rígida. Ele não se aproximou com o mesmo ritmo calmo de antes. Algo estava diferente, e Ryouma percebeu isso de imediato.

— Você sentiu, não foi? — Lan Mu perguntou, sua voz grave. Ele não parecia mais tão seguro quanto antes. A tensão entre eles estava palpável. — O Desespero Primordial é mais do que uma simples ferramenta. Você está começando a despertar algo que não deve ser despertado.

Ryouma permaneceu em silêncio por um momento, seu olhar fixo na figura de Lan Mu. A presença do outro parecia diferente agora, mais carregada, como se a própria realidade ao redor dele tivesse se curvado de alguma maneira. A sensação de distúrbio no ambiente não era um mero acaso.

— O que você quer dizer com isso? — Ryouma perguntou, sua voz mantendo a calma exterior. Mas por dentro, ele estava alerta. Algo estava prestes a mudar, e ele sabia disso.

Lan Mu respirou fundo, a tensão se espalhando pela atmosfera como uma onda prestes a se romper.

— Quando você ativa o Desespero Primordial, Ryouma, você está mexendo com forças que não são suas. Não é só poder o que você busca, mas também algo que é parte de um ciclo muito maior do que você imagina. E isso… pode ter consequências terríveis.

Ryouma sentiu a pressão aumentar. O ar ao redor dele estava ficando mais denso, mais difícil de respirar. A energia que ele havia acumulado parecia estar se tornando algo tangível, como se estivesse transformando o próprio ambiente à sua volta. A resposta do sistema veio, fria e direta, como sempre.

Alerta: O uso excessivo do Desespero Primordial está afetando o ambiente ao redor. Ajustes necessários para manter a estabilidade.Aconselha-se cessar o uso do espírito secundário até nova avaliação.

Ryouma ignorou novamente a notificação. Ele não precisava mais do sistema para entender o que estava acontecendo. Ele sabia que estava no centro de algo maior, algo que poderia facilmente sair de controle. Mas, por alguma razão, ele não conseguia parar. O desejo por poder, pela resposta definitiva, era mais forte do que qualquer cautela que ele pudesse ter.

— O que você está dizendo, Lan Mu? Que o Desespero Primordial não é meu para controlar? — Ryouma perguntou, um sorriso de desdém surgindo em seus lábios. — Não me faça rir. Eu sou quem escolho o que controlar e quando usar.

Lan Mu, no entanto, não se afastou. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos em Ryouma, e a intensidade de sua presença aumentou ainda mais.

— Não é sobre escolha, Ryouma. — Lan Mu falou com uma calma que contradizia a tensão crescente no ar. — O Desespero Primordial não é um simples espírito. Ele é uma manifestação de algo além do que você pode compreender. E quanto mais você o usa, mais difícil será manter sua humanidade intacta. Você está indo por um caminho que não pode voltar.

Ryouma sentiu o peso das palavras de Lan Mu, mas ao mesmo tempo, havia algo dentro dele que se recusava a parar. O poder do Desespero Primordial era viciante. Ele sabia que Lan Mu estava tentando alertá-lo, mas Ryouma tinha sua própria visão. Ele não queria ser apenas um espectador, não queria ser mais um que cedia ao destino. Ele queria ser o mestre de sua própria jornada.

— E se eu não quiser voltar? — respondeu ele, com uma confiança que agora parecia mais uma máscara do que uma verdadeira convicção.

A resposta de Lan Mu foi simples e direta.

— Então você será o responsável pela destruição que virá. Não só sua, mas de todos ao seu redor.

O vento soprou mais forte naquele momento, e, como se as palavras de Lan Mu tivessem ecoado em todo o ambiente, o chão ao redor de Ryouma começou a rachar. Uma onda de energia se espalhou, e, em um instante, o que antes era uma simples falésia se transformou em um campo de batalha iminente.

Ryouma olhou para Lan Mu com intensidade. O que aconteceria agora não poderia ser desfeito, mas ele já sabia que seu destino estava entrelaçado com aquele poder. Ele não havia feito isso tudo para recuar.

Ele avançaria, independentemente do preço.

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