Ethan e Elyss continuaram sua jornada pela vasta terra desolada que se estendia diante deles. O vento cortava a pele, e a atmosfera parecia carregada com a tensão de algo iminente. Mesmo após a derrota do Fragmento Original, o peso de sua transformação ainda recaía sobre Ethan, como se ele carregasse uma tempestade interna prestes a explodir. Ele sabia que, ao se unir aos Fragmentos, havia criado uma versão de si mesmo que era mais do que um simples ser humano — ele se tornara algo além da compreensão.
Elyss, por sua vez, mantinha-se em silêncio. Sua postura, firme, refletia o entendimento de que a jornada de Ethan estava longe de ser simples. O que ele havia conquistado até agora não era apenas uma vitória — era uma tragédia disfarçada de sucesso.
— O que você sente? — perguntou ela, quebrando o silêncio entre eles.
Ethan não respondeu imediatamente. Ele sentia, mas as palavras não vinham facilmente. Sentia-se mais forte, é claro, mas isso não significava que estava em paz. Havia algo dentro de si que o incomodava. Ele havia superado a última prova, mas sua luta interna parecia apenas ter começado.
— Não sei — disse finalmente, sua voz tensa. — Sinto que fiz a escolha certa, mas... ao mesmo tempo, não posso evitar a sensação de que algo foi perdido no caminho.
Elyss olhou para ele com uma expressão que misturava preocupação e entendimento.
— Todos enfrentam esse dilema, Ethan. Quando se alcança algo grande, sempre há algo que se deixa para trás. Às vezes, esse preço é mais alto do que podemos pagar.
As palavras dela ressoaram dentro de Ethan, mas ele sabia que não havia mais espaço para arrependimentos. Cada escolha o havia moldado para ser quem ele era agora. E, por mais difícil que fosse, ele não poderia voltar atrás. Mas a inquietação ainda o dominava.
À medida que caminhavam, a paisagem começou a mudar. As colinas áridas deram lugar a um terreno mais rochoso, com estruturas antigas surgindo à distância. Ali, no coração desse terreno desolado, estava a ruína de uma antiga cidade. Suas paredes eram revestidas por pedras negras que refletiam uma luz tênue e espectral. As ruínas exalavam uma sensação de abandono, como se o tempo houvesse parado para aquele lugar.
— A cidade de Valtor... — disse Elyss, em um sussurro. — Muitos dizem que ela foi destruída por aqueles que buscaram poder demais. Outros afirmam que o mal que habita lá ainda persiste, esperando o momento certo para se libertar.
Ethan franziu a testa. Ele podia sentir que algo estava errado. O ar ao redor da cidade parecia pesado, carregado de uma energia que ele mal conseguia entender. A tensão crescia a cada passo que davam em direção à entrada da cidade. Algo os observava. Algo que não deveria ser despertado.
— O que aconteceu aqui? — perguntou Ethan, tentando desvendar o mistério que envolvia aquele lugar.
Elyss hesitou antes de responder, seu olhar distante.
— Valtor foi uma cidade próspera, até que os governantes começaram a buscar fontes de poder além da compreensão humana. Eles abriram portais para dimensões desconhecidas, permitindo que entidades de outro mundo invadissem a cidade. O que aconteceu depois disso é... um mistério. Mas sabemos que a cidade foi consumida. E o que restou é uma relíquia do passado — uma lembrança do que acontece quando alguém busca o impossível.
Ethan não sabia o que esperar, mas algo dentro dele sentia que este seria o próximo desafio. Não era apenas uma cidade abandonada. Era um lugar que representava o preço do poder. Um reflexo do que ele poderia se tornar se não tivesse cuidado.
Ao entrarem na cidade, as ruínas pareciam ganhar vida. O som dos passos ecoava pelas ruas desertas, e as sombras pareciam se mover, embora não houvesse vento. As estátuas de pedra, outrora grandiosas, agora estavam quebradas, suas formas desfiguradas e irreconhecíveis. Cada edifício parecia ter sido marcado por uma força destrutiva, como se as próprias fundações do mundo tivessem sido abaladas ali.
— A cidade está viva — murmurou Ethan, sua mão sobre a espada, pronto para qualquer coisa.
Elyss olhou para ele, seus olhos apertados com cautela.
— Não subestime o que aconteceu aqui, Ethan. O que habita neste lugar pode não ser mais humano. Você sente a distorção? Algo está se aproximando de nós.
Antes que ele pudesse responder, uma sombra se materializou diante deles, uma figura alta e esquelética com uma aura negra que parecia drenar a luz ao redor. Seus olhos brilhavam com uma intensidade sobrenatural, e seu sorriso revelava dentes afiados como lâminas.
— Bem-vindos à minha casa... — disse a figura, sua voz ecoando como um sussurro entre os ventos. — Eu sou o guardião do que restou de Valtor. E agora... vocês devem pagar o preço por se atreverem a entrar.
Ethan imediatamente se colocou em posição defensiva, sentindo o peso da presença da criatura. Ele sabia que estava diante de algo além do que qualquer mortal poderia enfrentar. Mas ele também sabia que não poderia recuar agora.
— Eu não tenho tempo para isso — disse ele, a energia dos Fragmentos fluindo por seu corpo, pronto para enfrentar qualquer desafio. — Se você está aqui para nos impedir, então vamos ver quem será o último a ficar de pé.
O guardião riu, um som frio que parecia cortar a alma.
— Então, venha. Vamos ver até onde você pode ir, humano.
E com isso, a luta começou.