A luz que envolvia Ethan e Ireth era algo além da compreensão humana. Não era uma luz comum, mas uma energia pura que irradiava da própria essência do Elo Duplo. A energia parecia fluir entre eles como uma corrente constante, algo que tanto os conectava quanto os separava. Eles estavam juntos, mas ao mesmo tempo, algo havia mudado de maneira irreversível. Ethan, o homem que ela conhecera, agora não era mais o mesmo. Ele havia se fundido com o poder do Eco, e com isso, ele se tornara algo maior, algo mais imenso do que ela poderia ter imaginado.
Ireth olhou para ele, seu coração ainda apertado pela ideia de sua transformação. O homem que ela amava agora era uma fusão entre o humano e o divino. Não havia mais humanidade pura nele, mas havia algo que ela não conseguia ignorar – a luz de sua alma ainda brilhava, e ela sabia que, de algum modo, ele ainda era Ethan.
— O que devemos fazer agora? — Ela perguntou, ainda hesitante, mas com uma necessidade crescente de entender o que vinha a seguir. Ela sabia que o mundo havia sido salvo, mas a verdade era que a reconstrução seria um trabalho árduo. O véu havia sido fechado, mas o que isso significava para todos os outros mundos? Para os habitantes que ainda viviam, agora que tudo havia sido alterado para sempre?
Ethan, ou melhor, a entidade que agora carregava o nome de Ethan, olhou para ela com uma calma quase sobrenatural. Seu olhar refletia o peso do que ele havia se tornado, mas também a certeza de que havia algo mais a ser feito.
— Agora é o momento de restaurar o equilíbrio. — Ele respondeu com uma voz serena, mas com uma profundidade que parecia transcender tudo. — O Eco está comigo, mas a reconstrução não depende apenas de nós. Depende de todos. Cada vida, cada alma perdida, deve ser restaurada. E, para isso, precisamos trazer de volta a essência do que foi destruído.
Ireth sentiu o peso de suas palavras. Ela sabia que a destruição não havia sido apenas física. O Véu, em sua essência, não era apenas uma barreira entre os mundos, mas uma força que sustentava a própria realidade. Agora que ele havia sido fechado, as distorções no espaço-tempo estavam começando a se corrigir, mas isso exigiria mais do que um simples ato de vontade. Havia algo de maior importância que eles precisavam fazer. Algo que estava além de seus poderes individuais.
— Mas... como faremos isso? — Ireth perguntou, sua mente fervilhando com perguntas sem resposta. Ela sabia que eles não podiam fazer tudo sozinhos. A responsabilidade era grande demais, e a tarefa de restaurar o equilíbrio não poderia ser completada apenas por eles dois.
Ethan pareceu entender a dúvida em seu olhar. Ele fechou os olhos por um momento, concentrando-se, e a luz ao seu redor brilhou ainda mais intensamente. Quando abriu os olhos novamente, havia uma determinação renovada neles, como se ele tivesse vislumbrado algo além do horizonte.
— A reconstrução do mundo começa com a recuperação das energias dispersas. — Ele explicou, sua voz agora mais firme, mas ainda carregada com a mesma serenidade de antes. — A energia do Véu não desapareceu. Ela se espalhou pelos mundos, fragmentando-se e criando novas realidades. Nós devemos localizar essas energias e reuní-las. Mas não será simples. Essas energias se tornaram entidades por si mesmas, com vontade própria.
Ireth franziu a testa. A ideia de que as energias que sustentavam a realidade agora haviam se tornado entidades com vida própria era tanto fascinante quanto aterrorizante. Elas poderiam ser usadas para restaurar o mundo, mas também poderiam se voltar contra eles, tornando-se forças caóticas, incontroláveis.
— Então, o que devemos fazer? — Ela perguntou, mais uma vez buscando a direção que eles deveriam seguir. Ela queria entender, queria saber qual era o próximo passo. Mas as palavras de Ethan estavam começando a se tornar um enigma.
Ethan olhou para ela, e pela primeira vez desde sua transformação, havia uma suavidade em seus olhos, uma leveza que sugeria que, por um momento, ele havia recuado da divindade que o consumia.
— Precisamos viajar até os pontos de convergência dos mundos. — Ele respondeu. — Esses pontos são onde a energia do Véu foi absorvida, onde o tecido da realidade foi mais afetado. Lá, encontraremos as entidades criadas a partir dessa energia. Precisamos restaurá-las ou destrui-las, dependendo do que elas se tornaram. Somente depois disso conseguiremos trazer o equilíbrio de volta.
Ireth suspirou, sentindo o peso da responsabilidade. A missão parecia impossível, mas ela sabia que não havia outra escolha. O mundo que restava era frágil, e se as energias não fossem reunidas e equilibradas, o ciclo de destruição poderia começar novamente.
— Como encontraremos esses pontos? — Ireth perguntou, suas palavras carregadas de preocupação. Ela sabia que seria uma jornada perigosa, mas a necessidade de agir era maior do que qualquer medo que pudesse sentir.
Ethan fechou os olhos novamente, e a luz ao seu redor começou a se concentrar em seu corpo. Ele estava utilizando o poder do Elo Duplo, mas de uma forma diferente agora. Ele não era mais o elo entre o humano e o divino, mas o elo entre os mundos. Seu poder agora estava mais alinhado com a força da própria existência, e ele parecia estar em sintonia com o fluxo da realidade.
— Eu sinto os pontos de convergência. Eles estão distantes, mas próximos ao mesmo tempo. — Ele disse, sua voz sendo uma mistura de confiança e algo que parecia muito próximo da tristeza. — Eu posso guiá-la até lá, mas o caminho será tortuoso. Não há garantias de que seremos bem-sucedidos. Cada ponto é guardado por entidades poderosas, e elas não têm mais o propósito que tinham. Algumas estão corrompidas, outras se tornaram quase irreconhecíveis.
Ireth olhou para ele com uma determinação renovada. Ela não sabia exatamente o que enfrentariam, mas sabia que não havia outra escolha senão seguir em frente. O mundo, as pessoas que ela amava, todos dependiam disso. E, além disso, Ethan ainda estava com ela, mesmo que agora ele fosse algo muito maior.
— Vamos. — Ela disse, sua voz firme. — Se isso é o que precisamos fazer, então vamos fazer. Não importa o quanto seja difícil, vamos seguir em frente.
Ethan a olhou, e pela primeira vez desde sua transformação, ele sorriu. Não era um sorriso de alegria, mas um sorriso de compreensão, de aceitação. Ele estendeu a mão, e Ireth a pegou com confiança, sabendo que essa jornada seria longa e árdua, mas também sabia que ela não estava sozinha.
Com um movimento, eles começaram a caminhar, rumo aos pontos de convergência, rumo à restauração do equilíbrio. O futuro ainda estava incerto, mas com Ethan ao seu lado, ela sentia que, de alguma forma, a esperança ainda podia ser restaurada. E, talvez, o que eles descobriram ao longo do caminho fosse mais do que apenas a reconstrução do mundo. Talvez fosse o começo de um novo entendimento sobre o que significava ser humano, divino, e tudo o que estava entre esses dois extremos.