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Chapter 14 - A centelha do legado.

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Centelha do Legado

No centro da praça em ruínas, luz e escuridão se misturavam como fogo em redemoinho. Gritos ecoavam, corpos tombavam, e os Darxas avançavam — sombras feitas carne.

Kátyra viu Tharion cair de joelhos, atingido por uma flecha encantada. A dor dele atravessou o coração dela como se fosse a própria.

— Basta! — sua voz rompeu o caos.

O grito ecoou como se atravessasse eras. O chão tremeu sob seus pés. Cristais antigos ao redor da praça vibraram, rachando em padrões esquecidos.

Os olhos de Kátyra brilharam — não com luz comum, mas com o reflexo prateado de algo ancestral, como um espelho que revela o invisível.

Runas surgiram em seu antebraço, queimando de dentro para fora. Vozes sussurravam em grego antigo ao redor, vindas de um véu entre mundos.

Uma rajada de energia irrompeu dela, lançando dois Darxas longe e rasgando o céu com uma luz que lembrava as muralhas do Éter.

Silêncio. Um instante suspenso no tempo.

Uma centelha. Apenas uma. Mas suficiente para que todos a vissem.

Os Darxas hesitaram. Nesse momento, três encapuzados a envolveram com correntes de névoa escura, puxando-a como se abrissem uma fenda no espaço.

— Não! — Tharion tentou se erguer, mas um golpe de magia o lançou ao chão.

Kátyra desapareceu dentro do Véu.

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Após a batalha

A praça, agora mergulhada em fumaça e cinzas, parecia o eco de um pesadelo ainda não terminado. Guardiões discutiam entre si, Jeangles corriam em busca de feridos, e o povo observava, calado, a ruína do que deveria ter sido uma cerimônia de união.

Erizy caminhava entre os escombros com a tranquilidade de quem sabe que venceu. Sujo de sangue — mas não o próprio —, seus olhos frios varriam os rostos à sua volta como lâminas.

Ele encontrou Tharion ajoelhado, contido por dois soldados. O rosto do rapaz estava coberto de poeira e sangue seco, mas os olhos permaneciam em chamas.

— Onde ela está? — rosnou Tharion, com a voz rouca e cheia de fúria.

Erizy sorriu com escárnio e se agachou diante dele.

— Sempre direto ao ponto. Mas veja só… nem um "obrigado" por eu ter poupado sua vida. Ainda.

Tharion tentou se soltar, mas os soldados o imobilizaram com mais força.

— Você é um covarde. Escondeu-se enquanto ela lutava. E agora aparece para colher os louros.

— Ah, Tharion… — Erizy tocou o rosto dele com a ponta dos dedos, num gesto fingidamente afetuoso — Você fala como se entendesse algo sobre poder. Mas você é só um erro. Um filho bastardo de uma linhagem quebrada. Uma distração conveniente.

Tharion cuspiu sangue aos pés de Erizy.

— Acha mesmo que isso é sobre mim? Ela te viu. E é isso que te assusta. Ela sabe o que você é de verdade.

O sorriso de Erizy se desfez. Ele se ergueu lentamente, ajeitou o manto sobre o ombro e olhou ao redor, para os olhos atentos dos que ainda observavam.

— Você tem razão. Ela viu. E é por isso que agora ela está desaparecida. Levem-no para as masmorras.

Os soldados puxaram Tharion com brutalidade, mas Erizy ergueu a mão, interrompendo o movimento.

— Esperem.

Aproximou-se novamente e falou baixo, apenas para Tharion ouvir:

— Sabe o que é curioso? Ela hesitou. Por um segundo. Ela olhou para você antes de desaparecer… e mesmo assim, não lutou para ficar. No fundo, talvez... talvez nem ela tenha certeza de que vale a pena morrer por você.

Tharion arregalou os olhos, o maxilar trincado pela raiva, mas disse nada.

— Faça um favor a ela, híbrido — sussurrou Erizy. — Morra silenciosamente.

Com um gesto, os soldados o arrastaram pelas escadarias quebradas em direção às masmorras do Castelo da Rocha de Marfim.

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Últimas linhas do capítulo

Nas profundezas do Véu, entre ruínas esquecidas, Kátyra acordou acorrentada. As runas em seu braço ainda pulsavam, vivas como brasas.

Um vulto encapuzado se aproximou pelas sombras.

— A herdeira despertou — sussurrou uma voz fria. — Mas ainda é só uma fagulha. Nós faremos dela uma chama.

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