A estação King's Cross fervilhava de atividade naquela manhã de 1º de setembro de 1932. Trouxas apressados corriam para seus trens, completamente alheios ao meio de transporte mais extraordinário escondido entre as plataformas 9 e 10. Raphael observava tudo com uma mistura de excitação e nostalgia — uma sensação estranha para alguém que, teoricamente, nunca estivera lá antes.
"Lembre-se, Rapha", disse Edward, inclinando-se para falar mais baixo, "atravesse a barreira com confiança. Se estiver nervoso, pode fechar os olhos."
Rafael assentiu, segurando firmemente o carrinho onde seu malão repousava junto com a gaiola de Atena. A coruja branca observava a comoção com olhos atentos, parecendo tão ansiosa quanto ele para chegar a Hogwarts.
"Não estou nervoso, pai", respondeu ele com sinceridade. E não estava mesmo. Depois de anos de preparação, ele finalmente estava prestes a embarcar na jornada que definiria o resto de sua vida.
"Vamos juntos", sugeriu Eleanor, colocando a mão gentilmente em seu ombro. "Quando eu contar até três. Um... dois... três!"
Os três Elliotts avançaram em direção à barreira de tijolos que separava as plataformas 9 e 10. Raphael manteve os olhos abertos, querendo absorver cada segundo daquela experiência. Por um instante, tudo escureceu, e uma leve pressão foi sentida, como se estivesse atravessando uma cortina de água fria. No instante seguinte, ele emergiu do outro lado.
A plataforma 9¾ revelou-se diante dele em toda a sua glória — uma visão que fez seu coração disparar. O majestoso Expresso de Hogwarts brilhava sob o vapor que subia da locomotiva vermelha. Famílias bruxas lotavam a plataforma, com pais dando conselhos de última hora, irmãos mais novos lamentando não poderem ir também e alunos mais velhos se reencontrando com amigos depois do verão.
"É mais incrível do que eu imaginava", murmurou Raphael, seus olhos capturando cada detalhe.
Edward consultou seu relógio de bolso. "Vinte para as onze. Precisamos encontrar uma cabine para você."
Enquanto caminhavam pela plataforma, Raphael notou algumas figuras que lhe pareciam vagamente familiares. Um grupo de alunos mais velhos, vestindo túnicas com detalhes em verde e prata, observava os calouros com expressões avaliadoras. Perto da locomotiva, um menino de rosto redondo perseguia desesperadamente um sapo que saltava em direção aos trilhos.
Depois de guardar o porta-malas no porta-malas, chegou a hora das despedidas. Eleanor ajustou a gola da camisa de Raphael pela décima vez naquela manhã.
"Escreva assim que chegar", ela pediu, com os olhos marejados. "E não se esqueça de praticar seus exercícios de concentração todas as noites antes de dormir."
"Eu vou escrever, mãe. Eu prometo."
Edward apertou o ombro do filho com firmeza. "Lembre-se do que conversamos, Rapha. Hogwarts abrirá muitas portas, mas cabe a você escolher por quais passar."
Raphael assentiu, compreendendo o significado mais profundo daquelas palavras. Seus pais sabiam que ele era especial, embora não tivessem ideia de quão especial ele realmente era.
"Eu vou deixar vocês orgulhosos", ele prometeu, abraçando-os uma última vez.
O apito do trem soou, anunciando a partida iminente. Raphael subiu os degraus e, de uma das portas, acenou para os pais quando o trem começou a se mover. Permaneceu ali até a plataforma desaparecer completamente de vista, levando consigo as figuras de Eleanor e Edward.
Com um suspiro, Raphael ajustou a mochila no ombro e começou a caminhar pelo corredor do trem, procurando um compartimento. Muitos já estavam cheios de estudantes conversando animadamente. Ele observou rostos desconhecidos através das portas de vidro, imaginando quais deles desempenhariam papéis importantes nos anos seguintes.
Por fim, encontrou um compartimento ocupado apenas por uma garota de cabelos castanhos presos em uma trança elaborada. Ela lia um livro com tanta concentração que nem percebeu quando ele abriu a porta.
"Com licença", disse Raphael. "Posso sentar aqui?"
A garota olhou para cima, assustada. Ela tinha olhos verde-escuros e sardas suaves espalhadas pelo nariz.
"Claro", respondeu ela, fechando o livro, mas mantendo o dedo entre as páginas para marcar onde havia parado. "Você também é calouro?"
Raphael assentiu, guardando sua mochila no compartimento superior antes de se sentar.
"Raphael Elliott", ele se apresentou, estendendo a mão.
"Elizabeth Hawthorne", ela apertou a mão dele com uma firmeza surpreendente para alguém do seu tamanho. "Mas pode me chamar de Liz."
"É um prazer, Liz", sorriu Raphael. "O que você está lendo?"
Ela levantou o livro para que ele pudesse ver a capa: "Feitiços Essenciais: Guia do Iniciante para o Segundo Ano".
"Estou tentando me preparar", explicou ela, um pouco envergonhada. "Só descobri que sou bruxa há alguns meses e quero ter certeza de que não ficarei para trás de outros alunos que cresceram com magia."
"Isso é impressionante", comentou Raphael, genuinamente admirado. "A maioria dos calouros mal abriu os livros."
"Você vem de uma família bruxa?" ela perguntou, parecendo aliviada por ele não estar zombando de seu esforço.
"Meus pais são pesquisadores. Cresci cercada de livros sobre magia, mas eles são nascidos trouxas."
Antes que pudessem continuar a conversa, a porta do compartimento se abriu novamente. Um rapaz moreno e de cabelos cacheados apareceu, seguido por uma moça loira com uma expressão ansiosa.
"Com licença", disse o menino. "Podemos sentar aqui? Os outros compartimentos estão cheios ou... bem, nem todos são acolhedores para recém-chegados."
"Claro que pode", respondeu Liz, movendo-se para abrir mais espaço.
Os recém-chegados entraram, guardaram suas coisas e se acomodaram nos assentos vazios. O menino sentou-se ao lado de Raphael, enquanto a loira sentou-se ao lado de Liz.
"Sou Marcus Shacklebolt", o garoto se apresentou. "E esta é Violet Montgomery."
"Acabamos de nos encontrar no corredor", explicou Violet em voz baixa. "Estávamos tentando encontrar um lugar para sentar quando um grupo de alunos mais velhos bloqueou nossa passagem."
"Deixe-me adivinhar", disse Liz. "Mantos com detalhes verdes?"
Marcus assentiu. "Eles disseram algo sobre 'linhagem correta' e 'o tipo certo de mago'."
Um silêncio desconfortável se instalou brevemente no compartimento. Raphael sentiu uma onda de irritação. Mesmo naquela época, o preconceito já estava profundamente enraizado.
"Bem, agora você encontrou o compartimento certo", disse ele, quebrando o silêncio. "Sou Raphael Elliott, e esta é Elizabeth Hawthorne."
"Liz", ela corrigiu com um sorriso.
Marcus relaxou visivelmente. "Algum de vocês vem de família bruxa? Meu pai trabalha no Ministério, mas minha mãe é trouxa. Cresci conhecendo os dois mundos."
"Meus pais são bruxos", respondeu Violet timidamente. "Mas nenhum deles estudou em Hogwarts. Eles estudaram em Ilvermorny, nos Estados Unidos. Nos mudamos para Londres há apenas dois anos."
"Meus pais são nascidos trouxas", disse Rafael. "Eles se conheceram em Hogwarts, na Corvinal."
Liz fechou o livro completamente, agora interessada na conversa. "Minha família é inteiramente trouxa. Foi um choque quando recebi a carta. Eles acharam que era algum tipo de brincadeira elaborada até que o Professor Merrythought apareceu em nossa casa para explicar tudo."
"Galatea Merrythought?" perguntou Raphael, o nome despertando um eco distante em sua memória. "Ela ensina Defesa Contra as Artes das Trevas, não é?"
"Exatamente", confirmou Marcus. "Meu pai diz que ela é uma das melhores duelistas que já lecionou em Hogwarts."
A conversa fluiu naturalmente depois disso. Eles discutiram as casas de Hogwarts, com Marcus confessando que toda a sua família havia estudado na Grifinória, enquanto Violet admitiu que achava que se encaixaria melhor na Lufa-Lufa. Liz parecia determinada a ir para a Corvinal, citando seu amor pelos livros como prova clara.
"E você, Raphael?", perguntou Violet. "Tem alguma preferência?"
Rafael refletiu por um instante. Era uma questão sobre a qual ele havia refletido profundamente.
"Na verdade, não tenho preferência", respondeu ele honestamente. "Cada casa tem suas qualidades únicas. Acho que o importante é como aproveitamos as oportunidades que nos são dadas, independentemente da casa em que estejamos."
A conversa foi interrompida pela chegada da bruxa do carrinho. Os olhos de Raphael brilharam ao ver doces mágicos que ele conhecia apenas de suas memórias nebulosas — Sapos de Chocolate, Feijões de Todos os Sabores da Bertie Bott, Varinhas de Alcaçuz e muitas outras delícias.
"Tem alguma coisa do carrinho, queridos?" perguntou a bruxa gordinha com um sorriso acolhedor.
Raphael comprou uma seleção generosa e insistiu em compartilhar com seus novos conhecidos. Liz inicialmente recusou, mas cedeu quando ele mencionou que os Sapos de Chocolate vinham com cards colecionáveis de bruxos e bruxas famosos.
"Tenho algumas foices comigo", protestou ela enquanto mordiscava uma varinha de alcaçuz. "Você não precisa dividir tudo."
"Considere isso uma oferta de amizade", respondeu Raphael com um sorriso. "Além disso, fiz onze anos no dia 31 de outubro. Minha mãe sempre diz que compartilhar doces traz sorte."
"Você nasceu no Halloween?", exclamou Violet, arregalando os olhos azuis. "Isso é perfeito para um bruxo!"
"Deve ser especial comemorar seu aniversário em uma data tão mágica", comentou Marcus, dando um tapinha amigável em seu ombro.
Por um breve momento, Raphael sentiu uma estranha sensação de déjà vu, como se aquela cena — fazer amigos no trem de Hogwarts — fosse importante de uma forma que ele não conseguia identificar.
A paisagem do lado de fora da janela mudou gradualmente de áreas urbanas para campos verdejantes e colinas suaves. À medida que o dia avançava, a conversa no compartimento se aprofundava. Marcus revelou sua paixão pelo xadrez bruxo, prometendo ensinar os outros. Violet confessou ter um talento natural para Herbologia, tendo criado um pequeno jardim mágico em seu quintal. Liz contou como vinha devorando todos os livros de magia que encontrava desde que descobrira ser bruxa, demonstrando uma capacidade impressionante de memorizar feitiços e suas aplicações.
Quando chegou a vez de Raphael falar sobre seus interesses, ele escolheu suas palavras com cuidado.
"Sempre me interessei por como a magia funciona em sua essência", explicou ele. "Não apenas os feitiços em si, mas o porquê e o como por trás deles."
"O que você quer dizer?" perguntou Marcus, inclinando-se para frente com interesse.
"Por exemplo", Raphael ponderou por um momento antes de continuar, "por que algumas pessoas têm mais facilidade com certos tipos de magia do que outras? O que determina a afinidade mágica de um bruxo? E como o conhecimento trouxa sobre ciência poderia nos ajudar a entender melhor a magia?"
Um breve silêncio se seguiu enquanto os três absorviam suas palavras.
"Isso é... realmente fascinante", disse Liz finalmente, olhando para ele com interesse renovado. "Nunca pensei em relacionar a ciência trouxa à magia, mas faz todo o sentido tentar entender as coisas dessa forma."
"Você parece muito inteligente", observou Violet com um sorriso gentil.
A conversa foi interrompida quando o trem começou a desacelerar. Lá fora, o céu já escurecia e, quando olharam pela janela, puderam ver luzes distantes refletidas em um grande lago.
"Deveríamos trocar de roupa", sugeriu Liz, levantando-se para pegar seu uniforme. "Acho que estamos chegando."
Os meninos saíram para dar privacidade às meninas e depois trocaram de lugar. Quando todos estavam devidamente vestidos com suas vestes pretas de Hogwarts, o trem finalmente parou na estação de Hogsmeade.
O coração de Raphael batia acelerado quando desceram à plataforma. O ar da noite estava fresco e carregado de expectativa. Ao longe, uma voz grave chamava os alunos do primeiro ano.
"Alunos do primeiro ano! Alunos do primeiro ano aqui!"
Um homem alto e robusto, embora não tão grande quanto Rafael vagamente recordava de suas memórias nebulosas, ergueu uma lanterna, reunindo os recém-chegados.
"Deve ser o guarda-caça", comentou Marcus. "Vamos?"
Os quatro caminharam juntos em direção ao homem, juntando-se ao grupo de crianças de 11 anos que se formava ao seu redor. Todos exibiam expressões que misturavam nervosismo e excitação — expressões que Raphael imaginou que também exibia em seu próprio rosto.
"Todos os calouros estão aqui?" perguntou o guarda-caça, examinando o grupo. "Muito bem! Meu nome é Ogg, e vou levá-los ao castelo perto do lago. É tradição para os novatos. Quatro por barco, não se inclinem e mantenham as mãos dentro."
Raphael, Marcus, Liz e Violet naturalmente permaneceram juntos, embarcando em um dos pequenos barcos atracados na margem do lago. Assim que todos se acomodaram, os barcos começaram a se mover sozinhos, deslizando silenciosamente pela superfície negra e espelhada do Lago Negro.
Foi quando contornaram uma grande rocha que Hogwarts finalmente se revelou em toda a sua magnificência. O antigo castelo erguia-se majestosamente sobre um penhasco, com suas inúmeras torres e torreões pontilhados de luzes que brilhavam contra o céu noturno. A visão provocou suspiros coletivos dos alunos do primeiro ano.
"É ainda mais incrível do que as histórias dos meus pais sugeriam", sussurrou Marcus.
"É a coisa mais linda que já vi", concordou Violet, com a voz embargada pela emoção.
Raphael não conseguia dizer nada. Uma sensação avassaladora o dominava — em parte admiração, em parte satisfação, em parte uma estranha sensação de ter, finalmente, voltado para casa. Para alguém que carregava memórias fragmentadas de uma vida passada, aquele momento tinha um significado profundo que ia além da compreensão de seus novos amigos.
Enquanto os barcos deslizavam suavemente em direção ao cais subterrâneo do castelo, Raphael Elliott sentiu que sua verdadeira jornada estava apenas começando. Os anos em Hogwarts seriam cruciais para o desenvolvimento de suas habilidades extraordinárias e para a preparação para o papel que ele estava destinado a desempenhar nesta linha do tempo.
Ao desembarcar e seguir os outros alunos em direção ao grande portão de carvalho do castelo, ele fez uma promessa silenciosa a si mesmo: usaria cada segundo de seu tempo em Hogwarts para se preparar, aprender, crescer em poder e sabedoria. O mundo bruxo enfrentaria tempos sombrios nas décadas seguintes, e ele precisava estar preparado.
O vislumbre da luz dourada que emanava do Salão Principal o acolheu como um presságio, refletindo a luz dourada de sua própria essência mágica. Raphael respirou fundo e deu um passo à frente, cruzando o limiar de Hogwarts — o primeiro passo de uma jornada que mudaria o destino de todo o mundo bruxo.